God, Sky & Land: Genesis 1 as the ancient hebrews heard it – Brian Bull and Fritz Guy

junho 26, 2012

[…]Alguém com a firme convicção de que o fluxo de inspiração sempre flui diretamente de Deus ao profeta, sem nenhuma ondulação ou perturbações, e que Genesis é para ser entendido como algo vind de Deus para o profeta escrever, pode razoavelmente  concluir que a Terra tem apenas alguns milhares de anos de idade e que cada ser vivo e a terra mesmo vieram a existir durante seis dias consecutivos e contíguos de 24 horas. Seguir essa linha de raciocínio leva esta pessoa a ver a desconexão entre Genesis e a ciência como um desentendimento passageiro que, questão de tempo, va desaparecer – quando mais evidências científicas forem descobertas. Então a única coisa requerida é paciência. Afinal de contas, Deus falou aos profetas o que era para escrever, Deus é onisciente, e com certeza Deus não pode mentir, certo?

Se, por outro lado, o caminho da inspiração é entendido como sendo um pouco mais complicado – como na abordagem “Deus, a comunidade e os profetas” – então as descobertas da ciência podem ser levadas a sério na medida em que acontecem. Como consequência há uma séria e  e contínua tentativa de incorporar essas descobertas em uma compreensão sobre como são as coisas e como elas chegaram a ser assim. Há um reconhecimento de que quando Genesis foi escrito, tanto o profeta (o autor) quanto a comunidade à qual pertencia representarem uma realidade que consistia do céu, da terra, e era protegida do caos por uma abóbada sólida. Assim, a abóbada completava um ciclo a cada vinte e quatro horas e levava consigo “a luz maior”, a “luz menor” e as estrelas. Ou seja, há o reconhecimento de que “o céu e a terra” de Gênesis 1 difere enormemente do “universo” que conhecemos hoje.

Todos concordam que “Deus não pode mentir”. A questão aqui, entretanto, é um pouco diferente – ou seja – “Deus escreveu Gênesis?” Um número significtivo de cristãos poderia responder sim, Deus escreveu Gênesis;  de fato, Deus ditou Gênesis para os profetas, que por sua vez gravaram as palavras em placas, pele ou papiro. Há um único Autor, que em épocas diferentes e lugares diferentes, empregou vários secretários humanos.

Esta, obviamente, não é a única resposta possível à questão da autoria divina de Gênesis. Outros cristãos podem responder que a Bíblia, apesar de ser divinamente inspirada, tem conceitos, linguagens e lógicas que são essencialmente humanas. Como poderia ser de outra maneira? Certamente que a mente de Deus não pode ser expressa em linguagem humana. A inspiração divina iluminou e motivou o profeta, mas não eliminou a humanidade dele. E ser humano implica em ser condicionado pela própria inteligência, interesses, experiência e informação; e os interesses, experiência e informação são condicionados pelo contexto cultural da pessoa. Portanto, ao mesmo tempo que alguém diz que Deus foi o inspirador de Gênesis 1, pode também dizer que Deus não foi o escritor imediato.

Qualquer um que tenha realmente ouvido o que a Bíblia diz, e tenha refletido seriamente sobre sua “inspiração”, considera esta última perspectiva mais adequada à evidência bíblica. Os vários estilos literários e diferentes processos de pensamento tornam evidente que na Bíblia não temos apenas o resultado da inspiração divina, mas também a marca de uma grande diversidade de mentalidades humanas. Precisamos apenas olhar para (e realmente ouvir) a diversidade presente no conteúdo da Bíblia. Não só temos que Deus não é o autor direto da Bíblia, como os conceitos explanatórios que ela contém, também não são os conceitos explanatórios do próprio Deus.

Não é uma expressão de presunção reconhecer que a humanidade adquiriu uma imensa quantidade de informação adicional, novos conceitos e entendimentos gerais do mundo natural, desde que Gênesis 1 foi escrito. É totalmente razoável supor que boa parte dessa informação adicional e nova compreensão, representa algum tipo de progresso no entendimento de “como as coisas realmente são”. Enquanto pode fazer total sentido para o autor de Levítico listar os morcegos entre as aves impuras das quais não se deve comer (11:19), agora todos sabem que morcegos são mamíferos, e não aves. Da mesma forma, pareceu inteiramente apropriado ao escritor do evangelh0 de Mateus, representar Jesus descrevendo a semente de mostarda como “a menor de todas as sementes” (13:32), enquanto os botânicos de hoje sabem que as menores sementes são as das orquídeas.

Então, não é de surpreender que os conceitos que usamos para explicar a origem e operação do universo, diferem dos conceitos que a audiência que ouviu Gênesis 1 pela primeira vez, tinha. E porque nós tivemos mais tempo, oportunidade e meios de explorar essas coisas, e desenvolvemos formas de acumular vastas quantidades de informação, é evidente que nossos conceitos e entendimentos atuais  a respeito do mundo natural estão mais próximos da verdade. Entretanto, precisamos lembrar que nossa informação, conceitos e entendimentos também são limitados, e ainda há muito a aprender. Nossos conhecimentos atuais sobre o universo podem também ser vistos com estranhamento pelos nossos sucessores, assim como a cosmovisão apresentada em Gênesis 1, parece para nós.

O que temos em Gênesis 1 não é uma descrição da realidade física como entendemos que seja hoje, e sim, como essa realidade era entendida pelo autor do livro de Gênesis, e sua comunidade. […]

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Tão simples. Mas as pessoas preferem complicar e debater eternamente a respeito.


Eu odeio teologia…

junho 22, 2012

por Michael Spencer

[…]Odeio teologia quando ela é sem humildade. Teologia e humildade. Ambas devem caminhar juntas sem maiores dificuldades. Digo, não se trata de ciência aplicada aos foguetes. É infinitamente maior do que isso. Em seu leito de morte, Tomás de Aquino disse: “Não posso fazer mais nada. Tais segredos têm me revelado, que tudo que escrevi, parece agora ser de pouco valor.”  Sabemos ser esta a atitude apropriada perante nossas teologias, mas não é a nossa posição normal.

A ideia de saber a verdade sobre Deus, é o tipo mais perigoso e sedutor de conhecimento que podemos afirmar. Quanto mais aprendemos, mais humildes devemos ser.  Seguindo as teorias correntes do conhecimento, se Deus é infinito e incompreensível, então quanto mais sabemos, menos sabemos. Ou seja, quando a ignorância é substituída pelo conhecimento, este conhecimento abre novos e amplos espaços para o desconhecido, e isso nos torna humildes.

Tome como exemplo o astrônomo moderno. Ele parece conhecer mais sobre o universo do que seus antecessores da antiguidade, que pensavam que as estrelas eram pontos de luz, criados por deuses ou anjos. Será que esse maior conhecimento faz esse astrônomo se sentir mais experiente, ou faz com que fique mais estupefato, com admiração e assombro perante o que sabemos, e com tudo que ainda falta saber?

Então, como é que nós perdemos esse assombro na teologia moderna? Arrogância, não humildade, marca as discussões teológicas e os debates entre crentes. Você poderia pensar que alguns poucos anos de leitura e estudo abriram a mente do Eterno, e ela foi toda catalogada em fichas como as da biblioteca local.  A postura de um teólogo bíblico deve ser a adoração e o assombro constantes, não a de levianamente afirmar tudo o que sabe como certo.

Lembra a história do repórter que perguntou a Karl Barth qual tinha sido a maior verdade teológica que ele já tinha ouvido? A resposta do velho e sábio professor, foi: “Jesus me ama, isso eu sei, porque a bíblia me diz isso.”

Grande resposta.

Odeio teologia quando substitui a vida real. Aqueles que estão preocupados achando que estou caminhando rumo a algum tipo de ceticismo pós-moderno, precisam lembrar uma coisa a meu respeito, a única coisa que me autoriza a dizer “odeio teologia” com alguma medida de autenticidade.

Fiquei mais de quatro anos num seminário, e vivi para contar a história. Se você não andou todas essas milhas usando meus sapatos, sente e ouça.[…]

[…] Fiz parte da assistência da igreja quando estava no seminário, numa igreja que ficava próxima ao campus. Como qualquer igreja, tínhamos uma porção de coisas simples a fazer para ser igreja. Cuidar das crianças. Preparar a ceia. Participar de reuniões de oração. Evangelizar. Orar. Ministrar. Fazer parte de comitês. Pintar paredes.

O problema é que dificilmente podíamos fazer essas coisas, porque nossa igreja estava lotada de estudantes de seminário. Teólogos. Você não podia orar. Tinha que teologar sobre a oração. Não podia organizar um jantar na igreja. Tinha que teologar sobre os pobres, sobre economia e justiça. Você não podia ajustar o ar condicionado, sem passar por um debate teológico. Os teólogos deixavam a igreja paralisada (não queira saber no que pode se transformar uma simples escola dominical ou grupo de jovens, numa tirania de teólogos como essa).

Como se podia esperar, os teólogos pareciam evitar esses pequenos serviços que o resto de nós faz, simplesmente porque precisam ser feitos. Encarnação é uma grande ideia, contanto que você a pratique em vez de debater sobre ela.[…]

[…]Deixe-me ser bem claro. Deus deve ficar muito mais animado com uma pessoa que deseja fugir do pecado e amá-Lo, do que fica com o fato de alguém ser especialista em teologia histórica e sistemática. Quando chegamos ao ponto de imaginar que estamos prestando um serviço a Deus, desencorajando a devoção pessoal, apenas porque não se encaixa em algum padrão teológico, estamos na verdade agindo mal.

Veja, os teólogos são tentados a viver uma vida geralmente livre de coisas tais como: arrependimento pessoal, devoção, oração, adoração privada e expressões do amor de Deus. Boa teologia cobre uma multidão de pecados (ironic mode on). Quem tem tempo para esses desperdícios de energia mental, quando pode ler mais algum capítulo de exploração dogmática dos mandamentos, escritos por algum teólogo? Essa necessidade de debater é muito maior do que o desejo de orar, não é? O que fazer: ler mais algum livro, ou ter um tempo de devoção pessoal? Qual é a escolha mais fácil?[…]

[…]Não tenho tempo para perder com qualquer teólogo que não consegue enxergar a beleza de um coração que apaixonadamente tenta seguir Jesus, porque está muito ocupado lendo livros de teologia.

Odeio teologia quando age como se fosse ela mesma revelação, e não um esforço humano e falível. Meu amigo Jim Nicholson tem os créditos por isso. Para aqueles de nós que acreditam na doutrina reformada da depravação total, parece que mais de um desses teólogos, praticam teologia como se estivessem excluídos de algo com que o resto de nós temos que conviver o tempo todo: a influência do pecado em todas as áreas da vida humana, incluindo os exercícios intelectuais que são necessários para se fazer teologia. Parece estranho dizer isso, mas parece que muitos protestantes estão prontos a defender suas teologias como corretas, na base de que Deus precisa que alguém preserve a igreja dos erros. Sério que vocês pensam isso? Os herdeiros de Lutero realmente pensam assim, sobre esse exercício totalmente humano e feito por seres humanos falhos, chamado teologia?  Infelizmente, sim, e com consequências que vão desde a leve irritação à devastação total.

Como muitos já disseram antes, a teologia é potencialmente perigosa, justamente porque uma vez que tenhamos considerado ter chegado na “verdade”, passamos a ter certeza de que Deus está do nosso lado.[…]

[…]Talvez o melhor exemplo disso é nossa reformada e amada T.U.L.I.P. Deus está comprometido com a T.UL.I.P.? Ou é apenas esforço teológico humano? São nossas abreviações, nossos pensamentos e palavras?[…] Claro, eu creio que até certo ponto, essa abreviação, TULIP, apresenta um resumo do que muita gente boa acredita que a escritura diz, mas o fato é que tenho que tomar uma decisão consciente, e tratar essa abreviatura como é. Não é revelação. É teologia, e é o produto de mentes pecadoras e pensamentos imperfeitos. Como pensamento humano, é tão divino quanto o cardápio do MacDonalds.[…]

[…](Engraçado como os cristãos tendem a transformar seus heróis em algum tipo de super-homem, enquanto a bíblia coloca todos os seus heróis no mesmo nível de qualquer um de nós.)

Tome como exemplo a teologia do hedonismo cristão de John Piper. Impactou minha vida de uma forma poderosa. Foi como um salva-vidas para mim, e sou muito grato a esse homem. Mas ele é apenas um companheiro de jornada, e sua teologia é caída e falha, e não há autoridade – NENHUMA – na versão do Cristianismo elaborada por Piper do que há na versão feita por qualquer outra pessoa.

Vale lembrar que o problema raramente é com os teólogos. É com os seus fãs, e sou tão culpado nesse ponto, quanto qualquer um. Odeio teologia que cria celebridades com autoridade. É uma coisa boa que tenhamos teólogos, assim como também é bom lembrar que eles são apenas pessoas como nós. Não queime os livros deles. Queime os pôsteres e as camisetas autografadas por eles, isso sim.

Odeio teologia que precisa caçar todos os erros à vista. No verão, temos moscas aqui no sudoeste do Kentucky. Não gosto delas, e então dou aulas com um jornal enrolado na mão. Quando uma mosca se aproxima de mim, eu tento acertá-la. Eu não percebo, porque odeio as moscas, mas meus alunos notam com frequência que me distraio caçando moscas a cada terceira palavra, ou atravesso a sala atrás de alguma mosca que não consegui acertar.

Esta analogia descreve o pensamento de alguns teólogos. Eles estão certos, erros são intoleráveis, e eles saem à caça dos erros. Como na minha sala de aula, o evento principal parece ser caçar as moscas, e nada mais importa além disso.

Quando encontrei pela primeira vez um desses Calvinistas encarnados, ele era como um caçador de moscas. Não importa sobre o que eu pregava, no dia seguinte, ele vinha me explicar como eu tinha violado os pilares do Calvinismo. “Você percebeu que chamou as pessoas a fazerem escolhas? Você não pode fazer isso!”[…]

Sinto muito por você se precisa ensinar, orar, pregar ou fazer qualquer coisa na tentativa de comunicar o evangelho, tendo esses caçadores de moscas em sua volta. Você vai acabar perdendo a maior parte do seu tempo, sendo caçado por eles, e vai voltar para casa irritado. Sim, você voltará para a sua casa, lerá a bíblia e mudará sua mente (ou não), e caçador teológico de moscas, se achará encorajado a continuar caçando moscas, uma de cada vez.[…]

[…]E se o erro for insignificante? Uma vez que você esteja convencido de que a verdade está na SUA teologia, os menores erros, e os erros comumente aceitáveis, serão para você como entradas do inferno, e você não vai pensar duas vezes e gritar FOGO! para as almas em risco iminente de danação. No campo da saúde mental, chamam isso de transtorno obsessivo-compulsivo. É tratável, desde que o paciente admita seu problema e se submeta ao tratamento.[…]

[…]De novo, odeio dizer isso, mas existe um tipo de doença mental onde o paciente tem um “complexo messiânico”. Eu preciso salvar o mundo! Argumentar com todos! Afastar todos os erros antes que seja muito tarde! Qualquer sermão, qualquer demonstração de devoção pessoal, qualquer discussão sobre religião pessoal, se torna um campo de batalha para essas pessoas. Elas não enxergam isso, e estão convencidas de que o seu “ministério” é se tornar uma espécie de “caneta vermelha” de Deus, escrutinando tudo que os outros dizem sobre teologia. Se há repercussões ao seu fanatismo, quem é a vítima, e quem é o perseguidor dos liberais heréticos, ou ambos?

Todos nós erramos. Todos nós acreditamos em erros. Propagamos erros. Toleramos erros. Todas as nossas teologias possuem erros. Só Jesus é a Palavra Final sem erros, e ele não virá dentro de um livro de teologia sistemática.[…]

[…]Odeio teologia que ignora a nossa humanidade.[…]

[…]Minha humanidade importa. Odeio teologia quando desconsidera nossa humanidade e nos reduz a transportadores de ideias. Alunos, numa sala de aula, estão sempre em risco de errar. Os mais tolos são aterrorizados pelos mais espertos, e menosprezados pelos professores. Odeio teologia quando faz os que se acham mais espertos, bons leitores ou donos de elevados quocientes de inteligência, se considerarem os verdadeiros cristãos, e enxergarem o resto de nós, como penicos para seus argumentos e citações sem fim. Onde está a beleza e dignidade da humanidade em tudo isso?[…]

[…]Os teólogos precisam meditar sobre o inexplicável hábito de Deus, de atravessar rios conosco, pecadores. Vestiu Adão e Eva. Deu uma pausa a Caim. Saiu com Abrahão, Moisés, Noé, Davi e Elias. Nenhum deles era um grande teólogo. Todos eles pareciam mesquinhos e estavam frequentemente errados. Eram pecadores notórios. Os teólogos estão enfiados no templo, azeitando a máquina da religião, que só eles entendem. Enquanto os preferidos de Deus, estão derrubando filisteus, escrevendo poesias e namorando. Esse é um Deus que posso apreciar.

A teologia pode se tornar um clube que se propõe a derrubar os filhos de Deus. Se você conhece Deus, tende a agir como o Deus que você conhece. O bom pastor. O médico gentil. O que ressuscitou Lázaro. Aquele que transformou água em vinho.  Jesus não se parecia com um dos Fariseus em termos de teologia ou personalidade. Ficou zangado quando os fariseus não acharam certo curar um homem no Sábado. O que ele diria a respeito das nossas ratoeiras teológicas, que montamos para separar crentes de descrentes no que diz respeito às nossas matérias “confessionais”?  Quando tudo se resume a uma guerra entre os teólogos e o resto do mundo, crueldade e barbarismo são aceitáveis. Afinal de contas, Deus –  e nada mais – é importante. Certo?

Essas pessoas que importam para Deus – pessoas falhas e ignorantes – parecem perdidas para muitos teólogos. Eles se sentam diante de seus livros, e debatem sobre quantos anjos cabem na cabeça de um alfinete, enquanto alguém com uma teologia inaceitável para eles, tenta viver de acordo com o Sermão da Montanha e morre amando pessoas em nome de Jesus.[…]

[…]Repito. Odeio teologia que é desumana. Teologia que diz que Deus não ama as pessoas, e me dá permissão para fazer distinção entre os eleitos e os não eleitos entre as pessoas com as quais me relaciono. Não diga que isso não é um perigo. É um perigo sim, e a história cristã comprova isso o tempo todo.[…]

I hate theology – Michael Spencer – The Internet Monk


O céu está caindo…

junho 20, 2012

Conhecem um desenho de Walt Disney, daqueles bem antigos, onde um dos personagens, é um franguinho, que enganado pela raposa, acredita que o céu está caindo, e começa a espalhar o pânico na granja? O galo, líder da granja, logo coloca ordem no galinheiro, literalmente, e acalma a todos, desacreditando o franguinho. Com seu plano original fracassando, a raposa tenta o plano B, e inicia uma campanha difamatória contra o galo, colocando em dúvida a sua sanidade mental, seu caráter, sua integridade, sua capacidade de continuar na liderança da granja. Depois da campanha de difamação, que tem pleno sucesso, a raposa convence o franguinho, inexperiente e de pouca inteligência, a tomar o lugar do galo, e salvar a granja inteira da catástrofe iminente, que o galo insiste em afirmar que não é verdade, e que o céu continua no mesmo lugar onde sempre esteve. A raposa consegue seu intento de apavorar a granja inteira, com ajuda do franguinho, e leva a todos a se esconder numa caverna, na SUA caverna, suposto lugar seguro, onde devora a todos.

“O céu está caindo, o céu está caindo! Salve-se quem puder!”

Qualquer semelhança com o que acontece no mundo paralelo gospel, talvez não seja mera coincidência. De tempos em tempos, declaram que o céu está caindo por causa de declarações de alguém, ou de algum vídeo supostamente polêmico, e se colocam na posição dos “salvadores” da granja.

Pra quem não conhece o desenho, recomendo:

Alguns, vivem de polêmica, anunciando periodicamente que o céu está caindo sobre as cabeças dos crentes, e assim tentando aumentar o “ibope” dos seus blogs “apologéticos”… Não se fazem mais apologistas como antigamente.


Por que deixei de crer em Deus e como estou voltando a crer nEle

junho 20, 2012

por Liesel Hoffmann

Não sou brasileira, mas sou quase. Meus pais Alfons e Helga saíram de Hamburgo em abril de 1990, quando meu irmão Wolfgang e eu éramos crianças de 10 e 3 anos, respectivamente, e se instalaram em Salvador, Bahia. Desde Hamburgo meus pais eram luteranos, e mantiveram a religião na Bahia, apesar da forte presença católica e das religiões afro-brasilienses. Cresci ouvindo falar em Deus como um controlador do universo, a quem os seres humanos devem obediência e medo. Sempre ouvia falar na igreja que Deus é quem permite ou proíbe que as coisas aconteçam em nossa vida. Me lembro de uma vez num sermão o reverendo comparar Deus a um controlador de voo, responsável por manter os aviões no ar. Nesse dia me lembro de ter falado ao meu pai: mas os aviões caem…
Crescemos e fomos para o bairro da Moóca, em São Paulo, sempre com a visão de Deus como o controlador do Universo. Eu, por ter ido para o Brasil bem nova não tive muitos problemas com o idioma, ao contrário de meu irmão que, assim como meus pais, não entendiam o uso dos artigos e pronomes com substantivos masculinos e femininos, o que os levava a falar coisas com “meu casa”, “meu mãe”, “minha pai”, “a namorado de meu irmã”, “meu cunhada” e coisas assim, o que sempre era motivo de piada entre os amigos brasileiros.
Em 2004, meu irmão resolveu fazer faculdade. Aos 24 anos achou que poderia seguir carreira em São Paulo mesmo, já que meus pais não pensavam em voltar para a Alemanha e ele também não tinha o menor interesse em voltar. Se sentia muito bem no Brasil. Nós no sentíamos bem. Iniciou, em fevereiro, o curso de Publicidade e Propaganda no Presbiteriano Mackenzie, uma das melhores faculdades de São Paulo. Havia acabado de adquirir um carro. Tinha uma belíssima namorada brasileira, que era modelo na época. Ele estava muito feliz com a vida. Falava que era um “quase brasileira”, e fazia os amigos rirem com isso. Meu irmão e eu nos dávamos muito bem. Ele era meu melhor amigo e eu era a melhor amiga dele, a ponto de confidenciarmos um com o outro coisas que nem nossos pais sabiam. Ele me ensinou a dirigir e eu o ensinava a falar português. Nós nos amávamos muito. Eu o tinha como um herói, e ele me via como uma boneca de porcelana, com ele mesmo dizia.
No dia 27 de maio de 2004, ao sair da faculdade, meu irmão foi abordado por três homens que o mandaram entregar o carro. Sem esboçar qualquer reação meu irmão lhes entregou a chave e se afastou. Ao entrar no carro, um dos homens acertou meu irmão com um tiro que foi fatal: na mesma hora ele caiu morto em frente a faculdade. Naquele dia eu perdia uma das pessoas mais importantes da minha vida: Wolfgang Rudolph Jung Hoffmann, o Wolf, meu irmão a quem eu tanto amava, que morreu aos 24 anos. A família entrou em crise: meus pais se desesperaram, meus tios pensaram em fazer justiça com as próprias mãos. Mais ainda: minha crença em Deus se esvaziou por completo. Eu, uma adolescente de 17 anos totalmente descrente de Deus. Me lembro de ter dito: que Deus controlador é esse que permite um rapaz tão cheio de vida como meu irmão morrer de uma forma tão injusta? Ninguém me respondia. Na catedral luterana o reverendo dizia apenas: “deus quis assim”. Quis assim como? Ele fica feliz com a desgraça da família dos outros? Onde fica o tal amor que a Bíblia tanto fala?

Para encurtar a história, nos mudamos para o interior de SP em 2004 mesmo e em 2005 voltei para São Paulo, para morar sozinha e iniciar minha vida com meus próprios braços. Em dezembro de 2009 minha família resolveu voltar para Hamburgo, Alemanha. O Brasil, essa terra abençoada de gente alegre, era doloroso demais para minha mãe, que lamenta por ter passado uma tragédia tão grande num país tão bonito. E eu que não tinha nada a perder voltei também, mas agora para Berlin, onde vivo hoje.Desde que meu irmão se foi perdi totalmente a fé em Deus. Fiquei depressiva. Precisei de acompanhamento psiquiátrico. Tive crises emocionais. Tinha momentos terríveis em que precisava ser socorrida por estar em uma crise nervosa. Me lembro de um dia, já em Berlin, durante uma crise emocional onde eu gritava de desespero eu dizer: dá pra sair da minha vida, Deus? Você já me trouxe prejuízos demais. E assim vivi. Não queria correr o risco de crer num Deus que eu pensava proteger os que amo e ter de conviver com novas tragédias.

Agora, depois de viver e estar totalmente estabilizada aqui, começo a ver Deus de uma outra forma. Li o livro de um teólogo chamado Jurgen Moltmann e venho lendo algumas coisas sobre Deus escritas  por alguns líderes religiosos brasileiros. Um deles é o reverendo Ricardo Gondim, da Igreja Betesda em São Paulo. Estou descobrindo uma outra forma de ver Deus: ele não tem nada a ver com os acontecimentos humanos. Deus não controla nada, mas ama os seres humanos e lhes apoia nos momentos difíceis. Há alguns dias atrás, depois de ouvir um dos sermões do rev. Gondim pela internet cheguei à conclusão: Deus não teve nada a ver com a morte do Wolf, pois ele não permitiu nada, mas foi ele quem me ajudou a aguentar viva quando eu tentei tirar minha vida 15 dias após a morte dele. Comecei a chorar na hora. Pedi perdão a Deus por te-lo culpado pelas desgraças da minha vida. Espero que ele me perdoe por isso!

Ainda tenho várias dúvidas sobre Deus. E até hoje não me recuperei do trauma da morte do Wolf, mas aos poucos as coisas estão se encaixando. Mas independente de uma coisa e outra agora estou me sentindo melhor comigo mesma. Hoje faz exatamente 8 anos que meu irmão se foi, e é o primeiro ano que passo o dia inteiro sem qualquer crise depressiva. Ainda relembro a cena que vi quando cheguei em frente à faculdade, mas lido melhor com isso. Entendo que todos estamos sujeitos à tragédia.Espero que esse texto seja mais um passo rumo à cicatrização dessa ferida tão dolorosa.

Por que deixei de crer em Deus e como estou voltando a crer nEle – Liesel Hoffmann

Por que deixei de crer em Deus e como estou voltando a crer nEle – Liesel Hoffmann -no blog do Nelson Costa Jr


Carta a um ex-pastor

junho 19, 2012

Prezado Josimar,

Tomei conhecimento da sua história de ex-pastor, pela Internet. Apesar de não nos conhecermos, seu relato me chamou a atenção. E acompanhando os comentários que estão sendo feitos a respeito, resolvi escrever. Mas não se preocupe, porque minha intenção não é a de participar da sessão de apedrejamento dos crentes contra a sua pessoa.

Primeiro, gostaria de dizer a você, que eu fiz o caminho inverso ao seu. Conheço todos esses filósofos aos quais você se refere na sua carta com tanto deslumbramento. Conheço Nietzsche em profundidade, li todos os livros dele, tenho todos, e gosto de reler. E mesmo assim, faz cinco anos que deixei de me considerar ateísta. Sou cristã, e não deixei de aceitar os fatos científicos como fatos, por causa disso. E considero Richard Dawkins excelente quando o assunto é biologia e evolução, mas um verdadeiro desastre quando resolve falar em religião ou Deus. Nisso, ele é muito fraco, raso mesmo, e parcial. Assim como boa parte dos crentes, quando se mete a falar de evolução, se tornam ridículos, por pura falta de conhecimento de causa.

O que me chamou mais a atenção no seu caso, é que aparentemente você passou de pastor de uma denominação evangélica que é conhecida pelo fundamentalismo, ao outro extremo, tendo agora, até um cargo na Liga Humanista Secular. Não julgo sua decisão de ter deixado a IPB, mas na minha opinião, parece que você deixou a religião, mas a religião não saiu de dentro de você. E na minha opinião, o seu estado atual, é mais complicado do que o anterior. Não por ter abandonado a fé que você mesmo disse ter professado com tanta devoção e sinceridade; e sim, porque diz ter abandonado, mas continua com o mesmo pensamento religioso, mas agora dirigido ao outro extremo. Tome cuidado para não se deixar fanatizar, agora, pelo extremo oposto.

Eu conheço ateus fanáticos, que tratam o ateísmo como religião, pregam a respeito do ateísmo, querem converter pessoas ao ateísmo, exatamente como os religiosos que tanto criticam. Não são todos, mas eles existem, e são tão agressivos quanto qualquer fanático. São religiosos, sem Deus, mas religiosos como qualquer outro. Têm alma fundamentalista do mesmo jeito, com a diferença de não serem teístas, só. E ficaria triste em ver você, ferido pela religiosidade e o fundamentalismo evangélico, entrando agora por esse caminho, que não é de liberdade verdadeira. Parece ser um movimento em direção à liberdade, mas não é. Porque da posição onde você está agora, é possível, se seguir adiante com suas reflexões, encontrar uma posição mais equilibrada, longe dos extremos tanto de um lado quanto do outro, sem se deixar levar por paixões, pelo desgosto, decepção ou pelo deslumbramento, coisas que obscurecem o senso crítico. E encontrar uma forma de viver a fé, mais equilibrada. Falo por experiência própria.

Não se deixe levar tão rapidamente assim, a esse outro extremo, que é tão ruim quanto o extremo do qual você saiu.

Grande abraço,

Andrea

Pastor presbiteriano perde a fé, deixa o ministério e é perseguido no Paraná