The Faith of Scientists: In Their Own Words – Nancy K. Frankenberry

fevereiro 28, 2010

The Faith of Scientists é uma apologia dos escritos de vinte e um cientistas legendários, do início da Revolução Científica até as fronteiras científicas atuais, sobre fé, suas visões a respeito de Deus, e o lugar que a religião ocupa – ou não – em suas vidas, à luz do seu comprometimento com a ciência. É o primeiro livro a juntar algumas das mais renomadas personalidades científicas da ciência ocidental e apresentá-los em suas próprias palavras, oferecendo uma visão sobre suas reflexões públicas e privada a respeito da ciência e da fé.

A estudiosa em religiões Nancy Frankenberry busca em diários, cartas pessoais, palestras, ensaios e entrevistas, e revela que a fé entre os cientistas pode assumir diferentes formas, entre religiosa e secular, sobrenatural ou naturalista, convencional ou não ortodoxa. Esses escritos refletem um espectro de pontos de vista de diversas áreas da pesquisa científica. Estão representados nesta obra, algumas das mais influentes e colossais personalidades na história da ciência, desde os seus fundadores, tais como Galileu, Johannes Kepler, Francis Bacon, Isaac Newton, Charles Darwin e Albert Einstein, a cientistas modernos, como Carl Sagan, Stephen Jay Gould, Jane Goodall, Freeman Dyson, Stephen Hawking, Edward O. Wilson e Ursula Goodenough. Frankenberry fornece uma introdução geral a cada capítulo que situa esses escritos no contexto e sugere leituras posteriores para aprofundamento.

Tanto surpreendente quanto iluminador e inspirador, The Faith of Scientists é indispensável para estudantes, estudiosos, e qualque um que esteja procurando imergir a si mesmo em importantes questões sobre Deus, o universo e a ciência.

The faith of scientists: in their own words – Nancy K. Frankenberry


Deus depois do Haiti: teologia do bagaço

fevereiro 18, 2010

por Allan Brizotti

A teologia depois do Haiti precisa mudar! Não podemos mais enxergar Deus cuspindo ódio soberano sobre humanos indefesos num encontro mortal de placas tectônicas, mas sim, enxergá-lo em cada debilitado que vence assombrosamente o tempo e sai, com vida, dos escombros. Precisamos ver Deus na vida, não no desespero teológico, fantasmagórico, das milhares de mortes. Não precisamos que pessoas morram para que nossa teologia se fortaleça. Se nossa teologia se legitima na desgraça dos outros, não é teologia, é sadismo.

É preciso destruir a teologia da confusão. Confundir a justiça de Deus com vinganças rasteiras de seres “humanos” mesquinhos em seu fundamentalismo alienante é subestimar o caráter de Deus. Confundir o desastre haitiano com “julgamento” divino por causa da religiosidade (leia-se expressão religiosa) é abortar o amor – e com isso – o próprio ser de Deus, pois a Bíblia afirma que “Deus é amor” (I Jo. 4. 8). Con-fundir Deus com a teologia da igreja é o cúmulo da pretensão. É a ignorância institucional.

Nossa teologia não define Deus: define o que pensamos (e queremos desesperadamente que seja verdade) sobre Deus. Uma teologia burocratizada e neurotizante tenta esboçar um Deus “amoroso” apenas enquanto andamos sob suas rédeas. Aliás, rédeas que a própria igreja (sempre a instituição) faz questão de inventar e fornecer. Daí vem nossa monstruosa incapacidade para lidar com quem falha, erra, fracassa, perde, peca, pisa na bola; com os hereges, os oprimidos, os desajustados, os falsos, os impostores. Fica absurdamente difícil colocar no mesmo abraço o Deus da teologia sufocante da igreja com a liberdade intrigante dos homens. O Éden ainda é um passeio distante. É nosso insistente problema com a graça.

Depois do Haiti, Deus não pode mais ser teologizado na masmorra da verborragia. Ou Deus é encarnado nas fúrias da vida, ou não é Deus (pelo menos, não é o bíblico). Não podemos mais nos satisfazer em pregar sermões belíssimos de uma oratória sem desdobramentos práticos, nos púlpitos confortáveis de nossas catedrais. É preciso sujar os pés nos escombros da história. Já não se trata de teologia, mas de pedagogia! É aprender de Deus, com os filhos de Deus, no mundo de Deus.

É preciso olhar por uma outra teologia: talvez uma ecoteologia. É a luta pela preservação do meio ambiente (luta que o “mundo” já faz). É a prevenção das tragédias. A minimização do que, às vezes, é inevitável. É enxergar Deus não apenas evitando o inevitável, em suas demonstrações abusivas de poder, mas ajudando-nos no esforço humano das re-construções, demonstrando seu amor. Ecoteologia é o não-desperdício da água e dos outros recursos naturais. É a denúncia furiosa do consumismo e do materialismo. A denúncia da corrupção. Da maldição do plástico nos rios e mares.

Que fique sob os escombros do Haiti todas as (des)construções teológicas de um Deus tirano, cruel, vingativo, mesquinho e burocrata. Que fique sob os escombros do Haiti toda a hipocrisia dos que se dizem cristãos mas não querem ter o coração do Cristo. Que fique no passado aquela teologia maldosa (via Pat Robertson) que descaracteriza o rosto belo de Deus, aquele que Zilda Arns mostrou tão bem.

O futuro é agora.

Até mais…

Alan Brizotti

Deus depois do Haiti: teologia do bagaço – Alan Brizotti

Sei que o assunto já deu pano pra manga, mas acho que o texto do Alan vale como reflexão. Pense nisso!


Uma pitada de evangelho

fevereiro 16, 2010

por Caio Fábio

O Evangelho manda andar quieto, com pouco peso, sem papo furado pelo caminho, indo sem força própria, mas como um cordeiro ainda que em meio aos lobos; e isso sem desejos inquietos, sem frisson social, antes, desejando paz onde se entra; e permanecendo onde quer que se seja acolhido por filhos da paz; e manda ainda o Evangelho que em se indo… — que se pregue e se cure os doentes; e que se anuncie que o reino de Deus é chegado sobre todo aquele que crê.

O Evangelho manda que se ande sem ansiedade pelo que comer ou beber; pois, o Pai sabe e cuida; antes exorta a que se busque o reino em nós como bem maior; e garante que a simples Presença Primeira do Reino em nossa existencialidade, harmoniza a vida à nossa volta, de modo que todas as coisas que nos sejam necessárias nos serão acrescentadas.

O Evangelho manda que nossa alegria seja espiritual e não fundada nas cócegas irrisórias dos valores de neblina deste mundo.

O Evangelho ordena que a ninguém olhemos com preconceito, a menos que desejemos receber o conceito de Deus contra nós.

O Evangelho manda que nossas melhores festas sejam dadas a quem nunca tem alegria, como pobres, cegos, coxos, paralíticos, marginalizados e doentes.

O Evangelho diz-nos que perdoemos sempre; mesmo que seja algo inconcebível como 70 x 7 por dia.

O Evangelho afirma que Jesus só comparece a ajuntamentos de perdão, reconciliação e harmonia; ainda que apenas de duas ou três pessoas.

O Evangelho não ensina a fazer da Fé um Show e menos ainda o Show da Fé; ao contrario, manda que tudo seja feito de modo que mesmo o maior impacto seja logo esvaziado de todo show, para que fique apenas a pessoa e Jesus.

O Evangelho manda que não se tenha respeitos humanos, mas apenas respeito pelo ser humano; sendo que o primeiro tem a ver com posições e poder; e o segundo com a mera constatação reverente do outro como um ser.

O Evangelho designa homens e mulheres para serem sal, luz, sombra, ninho, abrigo, água fresca, pão, telhado, abraço, acolhida, hospitalidade, solidariedade, verdade, justiça, presteza, integridade, honestidade, lealdade, simplicidade e amor de Deus para com todos os homens; e, antes disso, uns para com os outros como discípulos de Jesus.

O Evangelho manda fazer o bem com a ignorância da naturalidade do amor de uma pomba; e discernir o mau com o olhar de uma serpente.

O Evangelho manda amar ao próximo como a nós mesmos, pois, somente assim o bem ao próximo é feito como quem toma banho, cuida de uma ferida, e penteia o cabelo sem virtude pessoal no que faz por si mesmo.

O Evangelho manda amar a Deus sobre tudo e todas as coisas, pois, sem o amor de Deus, que coisas haverá para serem de fato amadas e apreciadas?

Ora, eu poderia escrever até morrer de exaustão, sempre dizendo o que é o Evangelho e o que ele nos ordena como discípulos. Todavia, tudo o que se diga para sempre sobre isso, jamais será mais do que o que o Evangelho é: Deus, em Cristo Jesus, reconciliando consigo mesmo o mundo; e a nós de quebra…; e nós, por essa razão, tornando-nos os mais felizes, gratos e perdoadores de todos os seres humanos; inclusive de nós para nós —; e, portanto, os pobres que enriquecem a muitos.

Mas para quem desejar conferir por só saber que algo é o Evangelho se vier “entre aspas” ou com um monte de referencias ao “livro Bíblia”, abra a Bíblia e veja.

Eu, entretanto, escrevo assim [sem referencias ou citações], de propósito, desafiando os descrentes a lerem os evangelhos a fim de encontrarem qualquer coisa que não seja exatamente aquilo que nas palavras acima ditas expressam o espírito das palavras do Evangelho.

É somente assim o caminho que leva de meninos a homens! — Boys to Men!

Nele, que é a Palavra da Vida; o Evangelho,

Caio

Uma pitada de Evangelho: um sal pra pressão baixa – Caio Fábio


The philosophy of Jesus – Peter Kreeft

fevereiro 15, 2010

É surpreendente que até hoje ninguém tenha olhado para Jesus como um filósofo, ou para os seus ensinamentos como uma filosofia. Entretanto, talvez nenhum outro na história tenha apresentado uma filosofia tã0 radicalmente nova, ou feito maior diferença na filosofia, do que Jesus. Ele dividiu toda a história humana em duas, em “A.C.” e “D.C.”; e a história da filosofia é crucial para a história humana, pois a filosofia é essencial ao ser humano; como ele poderia não ter dividido também a filosofia?

Este livro (1) olha para Jesus como um ser humano completo (assim como divino), portanto, como filósofo também; (2) olha para a filosofia como os contemporâneos pré-modernos de Jesus a viam, ou seja, como sabedoria, uma visão de mundo, uma forma de viver, em detrimento de vê-la como uma supra-ciência (Descartes, Hegel), ou como estando a serviço da ciência (Hobbes Hume); e (3) encara a filosofia à luz de Jesus, em vez de encarar Jesus à luz da filosofia. Explora as consequências do ponto levantado por Etienne Gilson, de que quando S. João colocou o cristianismo e a filosofia grega em contato uma com a outra, e identificou o Messias, que os judeus tão profundamente procuravam, com o logos que os gregos tão profundamente procuravam, nada aconteceu a Jesus, mas alguma coisa aconteceu ao logos.

Este livro explora a mais radical revolução na história da filosofia, as diferenças que Jesus trouxe para a metafísica, à epistemologia, à antropologia, e para a filosofia da ética e política.

The philosophy of Jesus – Peter Kreeft


The case for God – Karen Armstrong

fevereiro 14, 2010

por Sholto Byrnes

[…] O Deus sobre o qual Armstrong está falando é aquele cuja existência não pode ser provada de nenhuma forma para a satisfação racional, nem pelos argumentos ontológicos de Anselmo ou Descartes, nem pela ciência, como Newton imaginava. De fato, até mesmo falar da sua “existência” já é, em si, problemático. O ponto do qual Karen Armstrong parte desde o início, é de que a linguagem, limitada à compreensão humana, não é capaz de se expressar completamente a respeito de Deus. Todas as declarações sobre Ele são, portanto, na melhor das hipóteses, analógicas – quando dizemos que “Ele é perfeitamente bom”, trata-se apenas da sombra de uma bondade que é impossível para nós compreender – e qualquer sugestão de literalismo, implica em cair num antropomorfismo brutal e idólatra.[…]

[…]Voltando aos gregos, Armstrong fala sobre como mythos, uma história que encapsula uma dimensão atemporal, eterna, foi deslocado pelo logos, racionalizado, pensamento científico. Porque vemos o passado através do prisma do presente, falhamos em reconhecer que a supremacia do logos sobre mythos é uma aberração, e que por milhares de anos, ambos conviveram felizes; Calvino era feliz em ver a escritura e a ciência acomodadas uma a outra. Em tempos mais recentes, entretanto, temos negado a força desse “poder acima do nosso entendimento”, como Euripides o expressou, nos rendendo ao “intelecto intrometido”, lamentado por Wordsworth, que “mata para dissecar”.

O que temos perdido no processo é a paz e a alegria do “desconhecido”, de contemplar o que não podemos conceituar de forma adequada.  Confrontados por um mistério – “alguma coisa na qual me encontro preso, e cuja essência não é inteiramente vista por mim” –  nós imediatamente tentamos reduzir isso a um problema, “alguma coisa que encontrei barrando minha passagem”. No entanto, muitos dos maiores cientistas e filósofos, os “deuses” dos novos fundamentalistas do racionalismo científico, de David Hume a Albert Einstein, nunca foram tão reducionistas assim. O conhecimento de que “o que é impenetrável para nós, realmente existe, e manifesta-se a nós como a máxima sabedoria ou a mais radiante beleza, que nossas fracas faculdades podem compreender em suas formas primitivas… está no centro de toda religiosidade verdadeira”, escreveu Einstein.  Nesse sentido apenas, ele disse, “Pertenço às fileiras dos homens religiosos devotados.”[…]

[…]Tudo o mais, inclusive as muitas coisas terríveis que são feitas em nome da religião ao longo dos séculos, é distorção, idolatria e falha de interpretação. Se você aceita isso, e Karen Armstrong constrói um bom argumento, histórico e teológico, de que é isso que acontece, então qual de nós gostaria de admitir isso: que temos vivido uma vida tão pobre, que não tem nenhuma noção sobre a maravilha e transcendência que ela deseja que conheçamos?[…]

The case for God: What religion means – Karen Armstron – review by Sholto Byrnes

Trecho do livro:

“Historicamente, o ateísmo raramente tem sido uma negação do sagrado per se, mas quase sempre, é a rejeição de uma concepção particular da divindade.  No início de sua história, tanto cristãos quanto muçulmanos eram chamados de “ateístas” pelos seus contemporâneos pagãos, não porque negavam a a realidade de Deus, mas porque suas concepções de divindade eram muito diferentes e vistas como blasfêmias. O ateísmo é obrigatoriamente dependente de forma parasita, da forma de teísmo que deseja eliminar e começa a se transformar em sua imagem reversa. O ateísmo ocidental clássico foi desenvolvido durante o século XIX e início do século XX, por Feuerbach, Marx, Nietzsche e Freud, cujas ideologias foram essencialmente uma resposta ditada pela percepção teológica de Deus que havia se desenvolvido na Europa e Estados Unidos na era moderna. O ateísmo mais recente, de Richard Dawkins, Christopher Hitchens e Sam Harrus, é bastante diferente, porque está baseado exclusivamente no Deus dos fundamentalistas, e todos os três insistem em dizer que o fundamentalismo constitui a essência e o coração de todas as religiões. Essa premissa enfraqueceu suas críticas, porque o fundamentalismo é de fato, uma forma desafiante e pouco ortodoxa de fé, que na verdade deturpa a tradição que está tentando defender. Mas os “novos ateus” encontram grande público, não só na Europa secularizada, mas também nos convencionalmente religiosos Estados Unidos.  A popularidade de seus livros, sugere que muitas pessoas estão perplexas ou até mesmo irritadas com o conceito de Deus que herdaram.

É uma pena que Dawkins, Hitchens e Harris se expressem de forma tão desequilibrada, porque muitas das suas críticas são válidas. Pessoas religiosas têm de fato cometido atrocidades e crimes, e a teologia fundamentalista que os novos ateístas atacam, é “inábil”, como os budistas costumam dizer. Mas eles recusam, a princípio, a dialogar com teológos que representam mais a tradição corrente. Como resultado, suas análises são decepcionantes e superficiais, porque são baseadas nesse tipo de péssima teologia. De fato, os novos ateus não são radicais o suficiente. Teólogos judeus, cristãos e muçulmanos, têm insistido por séculos em dizer que Deus não existe, e que não há nada fora daqui; ao fazer essas afirmações, o objetivo deles não é negar a realidade de Deus, mas preservar a transcendência de Deus. Em nossa sociedade falante e cheia de opiniões, entretanto, nós parecemos ter perdido de vista esta importante tradição que soluciona a maior parte dos problemas religiosos atuais.

Não tenho a intenção de atacar as crenças sinceras de ninguém. Muitos milhares de pessoas acham que o simbolismo que envolve Deus funciona bem com elas; com o apoio dos rituais e a disciplina de viver em uma comunidade vibrante, dá a elas noção do significado transcendente. Todas as formas de expressão da fé do mundo, insistem que a verdadeira espiritualidade precisa ser expressa de forma consistente na prática da compaixão, na habilidade de sentir-se unido ao outro. Se uma ideia convencional sobre Deus, inspira empatia e respeito por todas as demais, ela está cumprindo sua função. Mas o Deus moderno é apenas um em muitas teologias que foram desenvolvidas nos últimos três mil anos de história do monoteísmo. Porque “Deus” é infinito, ninguém pode dizer que tem a última palavra. Estou convencida de que muitas pessoas estão confusas a respeito da natureza das verdades religiosas, perplexidade que é exacerbada pelo caráter belicoso de muitas das discussões religiosas atuais. Meu objetivo neste livro, é simplesmente trazer algo estimulante para a mesa de debates.”

Karen Armstrong