O fim do mundo

novembro 6, 2021

O fim do mundo não é o fato de que algum dia a vida no planeta deixará de existir como a conhecemos, seja qual for a teoria por meio da qual as pessoas acreditam que isso virá a acontecer.

O fim do mundo é quando vemos pessoas supostamente cristãs movendo céus e terras para atacar um personagem de quadrinhos que nem sequer existe na vida real.

O fim do mundo é quando vemos pessoas supostamente cristãs passando horas debatendo teorias apocalípticas para fugir da realidade do mundo pós pandemia: o próximo passando necessidade, com sede, com fome e sofrendo todo tipo de privação. Esquecem do mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como amam a si mesmos.

O fim do mundo é quando vemos pessoas supostamente cristãs se recusando a tomar uma simples vacina, por acreditar em ridículas teorias de conspiração relacionados a elas. Pior que isso, fazer campanha contra as vacinas. As vacinas salvam vidas.

O fim do mundo é quando vemos pessoas supostamente cristãs defendendo posse e uso de armas, quando Jesus disse que o Reino não se conquista nem com força nem com violência.

Estes que agem desta forma podem ser tudo, menos discípulos de Jesus. Sobre eles será dito: nunca os conheci.


A history of the end of the world – Jonathan Kirsch

novembro 3, 2021

“O livro do Apocalipse tem servido como um “arsenal” na maior parte dos conflitos sociais, culturais e políticos na história ocidental. Mais de uma vez, o livro do Apocalipse provocou alguns homens e mulheres muito religiosos e perigosos, a entrar em ação para provocar seus apocalipses particulares. Acima de tudo, o cálculo moral do Apocalipse – a demonização dos próprios inimigos, a santificação da vingança, e a noção de que a história terminará em catástrofe – pode ser detectada em muitas das piores atrocidades e excessos em cada geração, incluindo a nossa. Por todas essas razões, a maior parte de nós ignora o livro do Apocalipse, e isso para nosso próprio empobrecimento, ou mais certamente, nosso próprio risco.”

O autor misterioso do livro da Revelação (ou Apocalipse, como o último livro do novo testamento é mais conhecido), nunca deve ter considerado que o seu sermão a respeito do fim dos tempos, iria durar mais do que a sua própria vida. De fato, ele previu que a destruição do planeta seria testemunhada pelos seus contemporâneos. Mas o livro do Apocalipse não só sobreviveu ao seu criador; sua vívida e violenta fantasia de vingança tem exercido um papel significante na história da civilização ocidental.

Desde que o Apocalipse foi pregado pela primeira vez como palavra revelada de Jesus Cristo, tem assombrado e inspirado ouvintes e leitores da mesma forma. A marca da besta, o anticristo, 666, a prostituta da Babilônia, Armagedon, e os quatro cavaleiros do Apocalipse são apenas algumas das suas imagens, frases e códigos que fizeram seu caminho na fábrica da nossa cultura.  As questões levantadas atingem em cheio o coração do medo humano da morte e a obsessão com a vida depois da morte. Iremos nós, individualmente ou coletivamente, viver eternamente em glória, ou arder eternamente no inferno? Como aqueles que melhor manipularam esta visão sombria aprenderam, de que lado vamos cair é uma questão de vida ou morte. Usado como arma nas guerras culturais entre Estados, religiões e cidadãos, o livro do Apocalipse tem alterado de forma significante o rumo da história.

Kirsch, que é chamado pelo Washington Post um “refinado contador de histórias, com um toque de renderização de antigas lendas deixando-as atraentes e relevantes para audiências modernas”, nos proporciona uma história chocante e de grande envergadura, deste livro escandaloso, que quase foi cortado do Novo Testamento. Da queda do Império Romano à  Peste Negra, da Inquisição à Reforma Protestante, do Novo Mundo à Direita Religiosa, esta crônica do uso e do abuso do livro do Apocalipse conta o desenrolar da história e as esperanças, medos, sonhos e pesadelos de toda a humanidade.

A history of the end of the world – Jonathan Kirsch

Um livro bem interessante, sobre quantas vezes ao longo da história ocidental, a data do fim dos tempos foi marcada. Inclusive, com a história da influência que exerceu na política de alguns presidentes norte-americanos, Ronald Reagan, George Bush (pai) e George Bush (filho); o surgimento do sionismo; o impedimento do avanço de qualquer diálogo que venha a gerar paz entre muçulmanos e judeus, porque a paz entre eles, supostamente, impediria a volta de Jesus; e tantas outras bizarrices e loucuras que o ser humano foi capaz de inventar e executar, inspirado por um livro que Lutero pensava que não devia fazer parte do Novo Testamento, o livro do Apocalipse.

Atualização em 2021: trouxe este post de volta por perceber que novamente há crentes falando sobre o fim do mundo. Eles preferem falar disso em vez de falar sobre a realidade. É muito mais interessante especular sobre isso em vez de focar em agir como cristãos de verdade, aqui e agora. É uma forma de justificar as faltas e omissões dessa galera: o fim do mundo está chegando, então por qual motivo eu deveria cuidar das questões reais e atuais? De tempos em tempos os profetas do fim do mundo reaparecem, contando com a falta de memória das pessoas. No caso atual, a pandemia fez com que eles ganhassem palco. Isso já aconteceu antes, acontece agora e acontecerá novamente no futuro. Não há nada de novo sob o sol.