Religião x Evangelho

novembro 29, 2010

por Caio Fábio

[…]Na religião o que importa são os fins…

Os meios são relativos…

E qual é o fim?

Levar Jesus às pessoas?

Certamente não, mas sim levar as pessoas para a “igreja”…

Se dissessem à “igreja” que o mundo inteiro creu em Jesus, mas que ninguém quer mais saber de “igreja”, ainda assim a “igreja” não ficaria feliz, posto sua preocupação de fato não seja com Jesus, com o Evangelho e com o povo, mas apenas com ela mesma…

O fim/finalidade da “igreja” é manter-se existente, não viva…

Por isto a “igreja” aceita tudo, menos morrer e servir…

Na realidade tudo tem apenas a ver com estratégia e espaço, ainda que haja pessoas bem intencionadas no processo…

Para que Jesus tenha algo a dizer à “igreja”, ela antes precisa levantar-se e dizer: “Mestre! Decido dar metade dos meus bens aos pobres; e se nalguma coisa defraudei alguém, restituo quatro vezes mais!”…

Então Jesus dirá à “igreja”:

“Hoje entrou salvação nesta casa!”

Antes disso Jesus nada tem a dizer àquilo que se auto-intitula Igreja sendo apenas “igreja”…

Se a “igreja” quer salvação precisa crer no Evangelho…

Do contrário, já se perdeu com o mundo…[…]

Fé em domicílio – Caio Fábio


Não é possível voar com uma asa apenas

novembro 26, 2010

por Nelson Costa Jr

“Na escala do cosmos só o fantástico tem condição de ser verdadeiro.”

Teilhard de Chardin

“Em alguns aspectos, a ciência superou em muito a capacidade da religião de criar uma admiração reverente. Por que será que nenhuma das grandes religiões examinou a ciência e concluiu: ‘Isto é melhor do que pensávamos! O Universo é muito maior do que diziam os nossos profetas, mais grandioso, mais sutil, mais elegante. Deus deve ser ainda maior do que imaginávamos!’? Em vez disso, dizem: ‘Não, não, não! Meu deus é um deus pequeno e quero que ele continue assim’. Uma religião, antiga ou nova, que acentuasse a magnificência do Universo revelada pela ciência moderna poderia atrair reservas de reverência e admiração ainda não canalizadas pelos credos convencionais. Mais cedo ou mais tarde, essa religião vai aparecer.”

(Sagan, Carl. Pálido ponto azul. Uma visão do futuro da humanidade no espaço. Trad. Rosaura Eichemberg. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 80.)

Não é possível voar com uma asa apenas – Nelson Costa Júnior


As normalidades do mundo…

novembro 24, 2010

por Caio Fábio

Cuidado com as normalidades do mundo…

Sim, pois no mundo a vida é um morrer de descuido e de descaso…

Portanto, seguir a normalidade da vida segundo o mundo, de fato é entregar-se ao fluxo dos que vão na avalanche pensando que o abismo não chegará nunca…

A normalidade do mundo é doença segundo Deus…

Tal é a normalidade do mundo que pelo voto se pode escolher Barrabás…

No mundo um homem que salve uma vida em situação de por a sua própria em risco, é um herói; enquanto aqueles que vivem todos os dias salvando vidas, são apenas pessoas que fazem isso…

No mundo…, poder é domínio sobre outros…

No Evangelho…, poder, antes de tudo, é controlar a si mesmo.

No mundo a inveja faz os homens quererem crescer segundo o mundo…

No Evangelho, por exemplo, o que move um homem na vida deve sempre ser o amor que a ninguém inveja, e que é contente em ser quem é…

O mundo diz que o Grande é o quantificável…

O Evangelho diz que o quantificável é nada, pois o que É não é mensurável…

O mundo diz que odeia o ódio, mas odeia sempre com mais ódio ainda aqueles sobre os quais são impostas as certezas de “eles” serem os promotores do ódio…

No mundo quem não aceita um desafio é covarde…

No Evangelho aquele que aceita um desafio é tolo…

O homem do Evangelho nunca deve aceitar desafios de outros, mas apenas andar segundo sua própria superação em amor sábio.

Entretanto, no mundo é normal dar segundo se recebeu…

A toda ação corresponde uma reação equivalente, advoga o mundo, seguindo como sabedoria para a vida a Lei da Gravidade e das forças das pedras e dos projéteis…

No Evangelho… à cada ação que incida sobre nós, deve haver uma ponderação…; e, então, depois, a escolha do curso de caminho que seja o nosso próprio caminho, e não um andar tangido pelo pastoreio dos impositores de caminhos e veredas desviados…

Na normalidade anestesiada do mundo, todo sucesso é prisão e mais escravidão ainda ao sucesso como deus…

No Evangelho todo verdadeiro sucesso liberta a pessoa da escravidão do sucesso segundo o mundo.

O mundo do qual falo é apenas um: esse feito de ideologias, grifes, objetivos e cronogramas de alcance de alvos bem materiais e terrenos… Sim, o mundo do qual falo é esse ente sem dono humano aparente, mas que controla todas as nossas decisões, dando-nos a ilusão de livre arbítrio…

Ora, nesse mundo pode-se odiar quem nos odeia; pode-se antipatizar gratuitamente; pode-se tudo o que se pode…; exceto matar… [exceto nas exceções convencionadas] ou roubar [a menos que se evite ser “pego”].

No mundo é normal ser aflito, angustiado, preocupado, desejoso, insatisfeito, sempre em busca de algo, sempre se medindo por outros, sempre na Maratona das Comparações…

No mundo o normal é consumir…

Portanto, tome cuidado; pois ser normal segundo o mundo é fazer-se louco diante de Deus e da vida que é.

Não esqueça nunca que a única normalidade já vista em um homem está no Filho do Homem.

Pense nisso!

As normalidades do mundo – Caio Fábio


Kierkegaard…

novembro 21, 2010

“Act just once in such a manner that your action expresses that you fear God alone and man not at all—you will immediately in some measure cause a scandal.”

Kierkegaard, Journals and Papers


The invisible church – J. Pittman McGehee & Damon J. Thomas

novembro 19, 2010

The Invisible Church: Finding Spirituality Where You Are

J. Pittman McGehee & Damon J. Thomas

Prefácio

Tenho conseguido manter uma posição de forma educada, mesmo sendo conhecido por muitos como um religioso liberal, progressista e até revisionista. Entretanto, minhas palestras conseguem atrair algumas almas inocentes que suspiraram alto quando me ouviram dizer que sou Marxista-Leninista. Porém, embora tenham ouvido Marxista-Leninista, o que eu realmente disse foi Marxista-Lennonista – me referindo a Groucho Marx e John Lennon, e não ao Karl e ao Lenin. Me identifico com Groucho Marx porque ele disse que jamais faria parte de um clube que o aceitasse como membro, que é a forma como muitos de nós se sentem a respeito da religião organizada, e amo John Lennon porque ele nos exortou a “Imagine”, que é onde vamos encontrar Deus e o Divino.

Então, como um Marxista-Lennonista de carteirinha, ofereço este livro para as pessoas que tenham sido feridas pela religião. Há muitos de nós caminhando feridos do lado de fora, particularmente nos Estados Unidos, onde uma das minhas maiores angústias como um jovem pastor Episcopal – o medo de não ter coisas suficientes para me manter ocupado – nunca se tornaram realidade. Desde que mudei de foco e me tornei um psicólogo na tradição de Jung, fui capaz de adquirir muita prática, com listas de espera e tudo mais, com pessoas que foram feridas pela religião. É legal ser tão solicitado, mas se eu pudesse, de alguma forma, pela proclamação, curar cada alma quebrada e auto-alienada lá fora, ficaria feliz em “fechar as portas” e me retirar para passar a vida pescando. Não tenho esse tipo de ilusão a respeito do meu “poder” de curar qualquer pessoa, ou de que o processo de individuação que descrevo nesse livro, seja a resposta para todos. O que eu espero é que essa discussão possa ajudar alguém a raciocinar internamente, e então que possam começar a encontrar seu próprio caminho em direção à graça, plenitude e transcendência que a verdadeira religião oferece.

Respeito opiniões como a do novelista Philip Roth, que chamou a religião de “irracional e ilusória”, porque na forma atual, muito da religião é exatamente isso. Mas diria que nós, seres humanos, somos criaturas religiosas por natureza. Como a estudiosa das religiões Karen Armstrong escreveu, temos evidências de que nós seres humanos, temos buscado por significado e valor nesta vida muitas vezes cruel e injusta, desde que nos tornamos conscientes.

Espero iniciar um diálogo sobre o que seria necessário para recuperar nossas verdadeiras naturezas religiosas, sobre como podemos nos desembaraçar daquela punitiva religião dos velhos tempos e rever uma espiritualidade saudável para o século XXI.  Creio que a função mais básica da religião tem a ver com nos fazer seres completos, como se sugere pela raiz etimológica da palavra. Legare significa conectar, então re-legare, que originou a palavra religião, tem a ver essencialmente com reconectar nossas partes quebradas, desconectadas e separadas, para formar um todo novamente. Humpty Dumpty pode ter sido uma causa perdida, mas os recursos da religião nos oferecem a oportunidade de nos colocar  juntos novamente.

Uma das minhas citações favoritas é do escritor russo Anton Chekhov, que disse, “Ter consciência sem ter uma filosofia de vida, não é vida, mas um pesadelo e um peso.” Ter uma filosofia, ou ponto de vista, me ajuda a encontrar significado e base nessa vida. Como cristão, minha vida tem sido enriquecida de forma incomensurável por ter tido acesso a uma história sagrada, que para mim tem tudo a ver com poder de transformação, renovação, e ter autoridade sobre a própria vida. Não estou sugerindo com isso, que o Cristianismo é o único ponto de vista válido, porque essa “palmada” desse “pai negativo” que exige exclusividade, envenena a atmosfera religiosa.

Até mesmo um auto-declarado humanista secular como Kurt Vonnegut está ciente da importância de fazer parte de uma grande tribo ou família. (Os humanistas seculares têm dado muita contribuição ao mundo, mas como Vonnegut reconhece, a tribo não é muito organizada.)

Considero a mim mesmo um cristão, e esse livro é em sua maior parte, sobre a forma de acessar o poder transformador da história sagrada e dos símbolos do mito cristão, mas qualquer leitor que esteja procurando um livro que suporte uma visão literal do cristianismo ou um aval para o cristianismo como a única religião verdadeira, provavelmente não vai encontrar muita coisa com a qual concordar nessas páginas, a menos que, como eu, considerem bem vindos, e encorajem pontos de vista divergentes.  E por ser um analista Jungiano, os leitores vão encontrar muitas referências à psicologia de C. G. Jung, o psicólogo suíço que fundou o campo da psicologia analítica no começo do século XX. Atualmente, cada vez mais leitores conhecem Jung através da Dra Jennifer Melfi, analista interpretada por Lorraine Bracco em The Sopranos, que leu o que ele escreveu ou alguns dos seus intérpretes  primários. Mas a influência de Jung permeia a psicologia moderna muito mais do que a maioria das pessoas imagina. Um protegido de Sigmund Freud, depois de romper com ele por causa de diferenças religiosas e outros assuntos, Jung originou muitos conceitos que se tornaram lugar comum no nosso vocabulário psicológico, incluindo termos como “complexo”, “inconsciente coletivo”, “sombra” e “anima”. […]

The Invisible Church: Finding Spirituality Where You Are – J. Pittman McGehee & Damon J. Thomas