Antes na igreja – Depois fora da igreja

novembro 30, 2009

por Thiago Mendanha

Acho que posso contar minha história dividindo-a em ANI e DFI. Calma, vou explicar: Antes Na Igreja e Depois de Fora da Igreja. Os leitores que já conhecem esse espaço e como me refiro aos termos me perdoem, mas muita gente ainda cai de súbito por aqui e entenderá mal minha colocação. De maneira que vou explicar só um pouquinho mais!

Quando divido minha vida em Antes Na Igreja, digo dos meus tempos como membro de denominações; meus tempos como “ministro de louvor”, como professor de Escola Bíblica Dominical, como “adorador extravagante”, como “separado do mundo” – acabo de ter um insight para um próximo texto -, como “evangélico”, como “gospel”, e por aí vai um tanto de classificações e nomes sem tanto… vocês conhecem!

Antes Na Igreja eu fazia parte desse bem elaborado Sistema religioso do qual grande parte das pessoas estão inseridas; esse Sistema abrange várias confissões: Cristianismo, Catolicismo, Protestantismo, Evangelicalismo, Judaísmo, Espiritísmo, Hinduísmo, Budismo, Ateísmo (considero um sistema (a)religioso), etc., etc. e etc. De uma forma ou de outra as pessoas, mesmo não engajadas, são influenciadas e moldadas por esses “ísmos”.

Antes que me pergunte o que tem de errado em fazer parte do Sistema, digo que a princípio nada. Todos estamos presos a algum tipo de Sistema. O problema é quando você se torna a bateria para que esse Sistema funcione. E assim, ele vai te sugando, e sugando toda sua energia a fim de fincar existência, ganhar poder, riqueza e expansão. Quando você deixa de ser uma “pessoa” que é servida pelo Sistema para servir ao Sistema, algo está muito errado.

E não se engane, alguém estará lucrando por trás do Sistema. Sempre haverá alguém lucrando…

Depois de Fora da Igreja eu experimento uma leveza na alma indescritível. Aprendi a me relacionar melhor com pessoas. E aprendi a julgar menos o caráter religioso das mesmas. Claro, que isso não é fácil! Vez ou outra a gente se pega definindo uma pessoa pela crença e a partir daí construimos algumas barreiras. Mas, a experiência tem me ensinado que quando não construo essas barreiras, encontro mesmo naquelas cujo a crença não compactuo de forma alguma, algo pra aprender. Encontro alguém com quem trocar idéias e na medida do possível suscitar diálogos edificantes. No mínimo ser gentil e educado!

Hoje sinto que minha energia não é gasta com o lucro dos vendilhões da fé. Minha consciência não é cativa de dogmas e doutrinas corrompidas em si mesmas. Hoje sou livre para ir e vir e fazer o que bem entender sem me sentir preocupado com o pastor.

Hoje aprendi a usar a liberdade que Cristo conquistou pra mim. E uso essa liberdade não como pretexto para libertinagem como virão alguns a pensar. Só porque não frequento uma denominação e não tenho meu nome constando no rol de membros de alguma instituição religiosa, não quer dizer que sou um “mundano” como dirão os desavisados.

Não, muito pelo contrário! Não vivo pela Lei, vivo pela Graça e isso me basta sobremodo.

Não quero que pensem que julgo ou condeno quem faz parte de uma denominação, ou de uma igreja institucionalizada. Por favor, não! Entendo que cada um tem que estar onde precisa estar. Cada um tem seu ritmo, seu jeito de aprender, de viver e de apreender a espiritualidade. Não sou melhor que nenhum destes só porque experimento um “ser igreja” diferente, natural e com pouquíssimos ajuntados. Muito pelo contrário, sou pior.

Apenas sei de uma coisa. Assim como não dá para voltar nos tempos A.C. também não dá para voltar nos tempos ANI.

Antes na igreja e depois de fora da igreja – Thiago Mendanha

Querem ver a reação de um pastor que parece alucinado, ao texto do Thiago? Leiam os comentários no texto original, link acima.


Recado aos crentes boca suja

novembro 29, 2009

Senhores crentes/evangélicos/cristãos e afins, faladores de palavrões e adeptos do uso de formas de expressão verbal pouco civilizadas (crentes das cavernas): antes de postar seus comentários, favor se certificar de que os mesmos não contêm palavras de baixo calão, expressões chulas, ou qualquer tipo de xingamento. Comentários contendo qualquer frase ou palavra que se encaixe nessa classificação, serão sumariamente deletados.

É lamentável que esteja sendo obrigada a dar esse aviso, em se tratando de pessoas que se dizem cristãs, mas que por meio de suas palavras, acabam dando péssimo testemunho a respeito das coisas que andam em seus corações.

Vamos debater idéias e usar argumentos para isso, em vez de xingamentos e palavrões. Caso você que esteja me lendo, não seja capaz de dialogar usando um nível mínimo de civilidade, educação e respeito, seu comentário, até mesmo para o seu próprio bem, não será publicado.


Idólatra, eu???

novembro 29, 2009

por Carlos Roberto Martins de Souza

IDÓLATRA! EU?
CONCEITOS E VALORES

“Eu sou o Senhor; este é o meu nome a minha glória, pois a outrem não darei, nem o meu louvor à imagens de escultura”
Isaias 42 :8

Para os evangélicos o conceito de “idolatria” se aplica literalmente às práticas do catolicismo nas suas relações de fé quando adotam imagens para se interporem nas formas de culto e de relacionarem com Deus. É exatamente assim, os “crentes” pensam exatamente desta forma e relacionam diretamente uma coisa com a outra sem darem conta de que o fato é muito mais abrangente do que imaginam.

Mas, e você se considera um “idólatra”? Com certeza absoluta sua resposta será não. Eu! Idólatra? Imagina, não confunda as coisas. Mas, você tem a “plena convicção” que não é um idólatra? Provavelmente a sua resposta possa ser sim, mas continuo a insistir, o que você define por “idolatria”? Espero que depois do que vou tratar aqui você possa chegar a uma conclusão: “Preciso mudar meus atos diante de Deus”.

“Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo…” – I Coríntios 3:10 e 11.

Para a maioria dos evangélicos e isto vem de longe, “idolatria” reside apenas o fato de pessoas “adorarem imagens de escultura” feitas por mãos humanas, motivo esse que sempre foi o principal ponto de divergências com o catolicismo. No entanto, diante dos absurdos que temos visto dentro das igrejas evangélicas, podemos sem nenhum constrangimento ou medo de cometer heresia, questionar até que ponto a “IDOLATRIA”, ainda que praticada de forma diferente, têm sido uma realidade assustadora entre nós. Durante séculos os cristãos “evangélicos” têm vivido na defensiva imputando aos outros segmentos religiosos a prática da “idolatria”, isto porque estes grupos inseriram em suas práticas e rituais de culto o uso direto e obrigatório de imagens de escultura. Assim, objetivamente os crentes classificam as pessoas que prestam culto através de um objeto qualquer como “idólatra”, o que não é errado, mas também não é o a única forma de se desviar do verdadeiro sentido de “cultuar a Deus”.

Para fugirem da sentença de condenação eterna e divina imposta pela santa “lei de Deus”, a Igreja Católica serve-se de “sutilezas teológicas” a fim de ludibriar os fiéis. Dizem e vivem a repetir os fâmulos católicos que os protestantes não levam em consideração a diferença entre “venerar” e “adorar”, argumentam ainda que o culto de adoração é prestado somente a Deus, mas que prestam um culto de veneração às imagens, às relíquias aos santos e a Virgem Maria. Dizem: “O católico venera os santos, não as imagens, mas o que elas representam, assim como sentimos amor por uma pessoa querida ao ver a sua foto. Veja que neste exemplo não sentimos amor pela foto, mas pela pessoa que nela está representada”.

De fato, para o catolicismo “a honra prestada a uma imagem se dirige ao modelo original”, e quem venera uma imagem venera a pessoa que nela está esculpida ou pintada. A honra prestada às santas imagens, dizem, é uma “veneração respeitosa”, e não uma “adoração”, que só compete a Deus. Como dizia John Wycliff e Savanarola, este último cuja voz de protesto foi sufocada pelas “fogueiras inquisitoriais”: “Eles adoram, com efeito, no sentido próprio da palavra, as imagens, pelas quais sentem uma afeição especial” – A Imagem Proibida pág. 280

Frei Basílio Rower, em seu “Dicionário Litúrgico” na pág. 15 sobre o verbete: “Adoração da Cruz”, comenta: “A ADORAÇÃO DOS SANTOS E DE SUAS RELÍQUIAS E IMAGENS CHAMA-SE GERALMENTE VENERAÇÃO.” (ênfase do autor)

Bastaria uma consulta a de nossos dicionários para desmascararmos esta suposta diferença, esta distorção dos fatos, pois venerar e adorar são “sinônimos” sendo que venerar é palavra “latina” e adorar é palavra “grega” tendo o mesmo significado. Sendo assim, o dicionário coloca acertadamente “adorar” no mesmo patamar de “venerar”. Mas os católicos insistem em fazer vistas grossas a este fato e saem pela tangente com o argumento de que adorar e venerar pelo dicionário da língua portuguesa, nos dias atuais, não têm qualquer diferença. Mas, não se esqueça de que a nossa fé tem mais tempo do que a história de Portugal e Brasil. Na literatura católica, por “conveniência” e apenas por ela, há distinção entre adorar – latria – e venerar – dulia – mas, como eles mesmos admitem e qualquer católico poderá conferir, “adorar” é o mesmo que “venerar” e isto é uma pedra de tropeço para a teologia católica.

O problema fundamental é que ninguém em pleno século XXI vai “admitir” que adora uma imagem. É algo repugnante à moderna mente tecnológica de nosso século. Acontece que entre a teoria e a prática, há, no entanto, um grande abismo. E é este abismo que tem levado muitas pessoas ao engano e a se posicionarem numa estratégia de defesa argumentando que no culto que prestam a “idolatria” está excluída e que vivem em função de adorarem somente a Deus.

O que seria “idolatria”? Apenas o fato de alguém adorar a imagens? Obviamente que não! Ela não se resume a tão pouca coisa, IDOLATRIA é tudo aquilo que “substitui” a Pessoa de Jesus Cristo na vida de uma pessoa. A referência Bíblica apresentada por Paulo nos ensina que ninguém pode lançar outro fundamento além do que já foi posto, que é Cristo. Quando passamos a lançar outros fundamentos que não seja Jesus, logo estamos tentando substituí-lo e por isso nos tornamos IDÓLATRAS.

As igrejas evangélicas não possuem imagens de “santos” nem de outros deuses o que é natural, mas praticam a idolatria devido a tantos outros “fundamentos” que se têm lançado. Por esta razão Paulo faz um alerta: “Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo” – II Coríntios 11:3. E como nós evangélicos temos nos afastado da simplicidade que há em Cristo! Como temos idolatrado tanta coisa com a maior naturalidade. Via de regra ouve-se um irmão de fé afirmando categoricamente: ”Eu adoro isto”! Viva o chocolate!

Como se tem lançado neste tempo tantos outros fundamentos fora de Cristo e por isso, muitos de nós tem se tornado “idólatra” na concepção da palavra. É fácil constatar isso mediante os “falsos ensinos” e “heresias” que estão se alastrando como praga no meu evangélico. Prega-se por ai tantas “abobrinhas”, valendo-se de passagens Bíblicas fora de contexto e interpretações equivocadas. Até parece que o sacrifício de Jesus Cristo na cruz não tem mais valor, pois damos mais espaço para outras formas de “redenção” e “justificação”. São muitos hereges induzido o povo a confessar os seus pecados cometidos desde a infância, mas aonde entra a nossa total redenção conquistada lá na Cruz? E o que dizer do perdão e da vida nova em Cristo? Deixaram de existir ou perderam o seu valor? Segura o “shofar”, lembra-te do sábado, olha o jejum de quarenta dias, não quebre a corrente e vai por aí! Heresias, tudo heresias…

Enquanto a Palavra de Deus nos revela as suas maravilhas através de Jesus, muitos, mal orientados ou por interesses duvidosos, preferem os rituais e as técnicas e tantos outros fundamentos fora do Salvador. Como se fosse pouco, a barbaridade religiosa transvestida de cristianismo, tenta anular a graça lançando outro fundamento, muitos corrompem o Evangelho e acentuam a ganância do homem institucionalizando a “cobiça” como uma prática comum. A teologia da prosperidade tem colocado dentro das igrejas um altar para o “DEUS DA RIQUEZA”, Mamom. Toda sorte de “barganhas” e “negociações” têm sido ensinadas aos cristãos, inclusive atribuindo o tamanho da “bênção de Deus” aos bens materiais que se possui, como se nossa herança não fosse eterna.

Dessa forma, como podemos chamar de “idólatras” aqueles que se curvam diante de esculturas, se nós temos as nossas próprias “idolatrias” personalizadas ao melhor estilo GOSPEL?

Carlos Roberto Martins de Souza
crms2casa@otmail.com

É melhor muitas pessoas reverem suas próprias atitudes e conceitos, antes de achar que somente é idolatria o fato de usar imagens de escultura. Pois temos visto muitos tipos de idolatria dentro de igrejas evangélicas, idolatria a pessoas, a ídolos gospel que cobram cachês milionários, a objetos supostamente ungidos, peças de roupas, flores, idolatria à própria bíblia, ao dinheiro, idolatria a doutrinas, rituais e regras impostas por homens, e até mesmo ao local de culto.


Religião e evolução podem conviver lado a lado

novembro 26, 2009

por Michael Shermer

Na última terça-feira (24/11) foi o aniversário de 150 anos da publicação de “A origem das espécies”, de Charles Darwin, ocorrida em 24 de novembro de 1859. Todas as 1250 cópias da primeira impressão foram procuradas, por leitores ávidos por ver se o naturalista inglês estava sendo desonesto com sua teoria radical de evolução, “por meio da seleção natural, ou a preservação das raças mais favorecidas na luta pela vida” no título completo do livro.

Quão importante é esse livro? Thomas Huxley (“o buldogue de Darwin”), proclamou que “A origem das espécies” é “o instrumento mais potente para estender o domínio do conhecimento que chegou às mãos dos homens desde “Principia” de Newton”, e lamentou consigo mesmo: “Como fui idiota em não ter pensado nisso.”

O biólogo de Harvard Ernst Mayr, indiscutivelmente o maior teórico da evolução desde Darwin, afirmou:  ” Seria difícil refutar a afirmação de que a evolução proposta por Darwin foi a maior revolução intelectual na história da humanidade.”  O paleontólogo e historiador da ciência, de Harvard, Stephen Jay Gould chamou a teoria da evolução de uma das doze idéias mais importantes em toda a história do conhecimento ocidental.

Por que, então, tantos norte-americanos não aceitam a teoria da evolução? Uma pesquisa feita pelo Gallup em 2001 encontrou que 45% dos norte-americanos concordam com a afirmação “Deus criou os seres humanos em sua forma atual ao mesmo tempo, aproximadamente 10 mil anos atrás”, enquanto 37% preferiu uma crença mista que “O ser humano se desenvolveu durante milhões de anos a partir de formas de vida menos avançadas, mas Deus guiou o processo”, e apenas 12% aceita a teoria científica padrão que “Os seres humanos se desenvolveram durante milhões de anos a partir de formas de vida menos avançadas e Deus não teve participação no processo.”

Estas porcentagens mudaram muito pouco nos anos subsequentes, apesar da maioria dos cientistas preferirem que as perguntas fossem feitas sem referência a Deus, já que a ciência da biologia evolucionária permanece tenha Deus governado o processo ou não, ou mesmo que haja ou não haja Deus.

Há pelo menos seis razões que levam as pessoas a resistirem em aceitar a teoria da evolução.

1. O modelo de Batalha entre Ciência e Religião. A crença de que existe uma guerra entre ciência e religião onde só um está certo e o outro, está errado, e que precisamos escolher um, em detrimento do outro.

2. A crença de que a evolução é uma ameaça a dogmas religiosos específicos. Muitas pessoas tentam usar a ciência para provar certos dogmas religiosos, mas quando a teoria não parece provar isso, a ciência é rejeitada. Por exemplo, a tentativa de provar que a história da criação em Gênesis é exatamente refletida no registro fóssil tem levado muitos criacionistas a concluir que a Terra foi criada nos últimos 10 mil anos, o que está em contraste gritante com as evidências geológicas de um planeta com 4,6 bilhões de anos de idade.

3. Incompreensão sobre a teoria evolucionista. Um problema significativo é que a maioria das pessoas conhece muito pouco sobre a teoria. Na pesquisa Gallup de 2001, um quarto das pessoas entrevistadas responderam que não sabiam dizer se aceitavam a evolução ou não, e só 34% consideraram a si próprias como “bem informadas” sobre a teoria.  Pelo fato de a evolução causar controvérsia, os professores de ciências das escolas públicas normalmente fogem totalmente do assunto, em vez de enfrentar o desconforto causado em alunos e pais.

4. O medo de que a evolução degrade a humanidade. Depois que Copérnico derrubou o pedestal da centralidade cósmica da Terra, Darwin deu o golpe de misericórdia nos mostrando como “meros animais”, sujeitos às mesmas leis naturais e forças históricas assim como todos os animais.

5. O equacionamento da evolução com o nihilismo ético. Este sentimento foi expresso pelo comentarista social neoconservador Irving Kristol em 1991: “Se há um fato indiscutível sobre a condição humana é que a comunidade não sobrevive se for persuadida de que – ou se suspeitar – que seus membros estão levando vidas sem sentido num universo sem sentido.”

6. O medo de que a teoria evolucionista implique em que temos uma natureza humana fixa. As primeiras cinco razões para a resistência à teoria evolucionista ocorrem quase exclusivamente em políticos conservadores. Esta última razão se origina nos liberais que temem que a teoria evolucionista aplicada ao ser humano implique que teorias políticas e doutrinas econômicas vão falhar porque a constituição da humanidade é mais forte que as constituições dos Estados.

Todos esses medos são infundados. Se alguém é teísta, não faz diferença quando foi que Deus fez o universo – se foi há 10.000 anos ou há 10 bilhões de anos. A diferença de seis zeros não faz sentido em um ser onipotente e onisciente, e a glória da criação divina merece elogios, independente de quando ela aconteceu.

Da mesma forma, se não importa como Deus criou a vida, se foi por meio de uma palavra milagrosa ou por meio das forças naturais do universo. A grandiosidade do trabalho de Deus nos leva ao temor, independente do processo que Ele tenha usado.

Quanto aos significados e à moral, é aqui que nossa humanidade decorre de nossa biologia. Nós evoluímos como primatas sociais com tendência a sermos cooperativos e altruístas dentro do nosso próprio grupo, mas competitivos e belicosos em relação a outros grupos. O propósito da civilização é nos ajudar a anular o lado negro dos nossos corações e acentuar os melhores anjos da nossa natureza.

Os crentes devem abraçar a ciência, especialmente a teoria evolutiva, pelo que ela fez para revelar a magnificência da divindade, em uma profundidade nunca sonhada por nossos ancestrais. Nós temos aprendido muito nos últimos 4.000 anos, e esse conhecimento nunca deve ser temido ou negado. Em vez disso, a ciência deve ser saudada por todos que apreciam a compreensão humana e a sabedoria.

Religion, evolution can live side by side – Michael Shermer


Entrevista com Karl Giberson – fé e evolução

novembro 24, 2009

O subtítulo do seu livro é “como ser cristão e acreditar na evolução”. Mas não se “acredita” na evolução como se “acredita” em Deus, em anjos ou em Papai Noel…

Exato, e isso ressalta um aspecto muito importante desta controvérsia: que significado as pessoas pensam ver nas palavras que usamos? Muitas pessoas pensam que “evolução” significa “uma história ateísta sobre as origens”. Se perguntarmos a uma pessoa religiosa se ela acredita em evolução, muitos se sentirão levados a responder “claro que não!”

Mas há dois sentidos de “acreditar” que, para mim, são relevantes aqui. No sentido literal, quer dizer simplesmente “aceitar como verdadeiro”. Todos “acreditam” que dois mais dois são quatro. Esse sentido mais leve poderia se aplicar, penso eu, às pessoas que acreditam em Deus, mas para quem essa crença não tem consequências. Muitos deístas acreditam em Deus como acreditam nas leis da Física – há alguma coisa “lá fora” que existe, mas que efetivamente não significa nada de profundo para eles.

Mas há outro significado de “acreditar” que tem uma carga mais profunda. Minha crença em Deus tem implicações que minha crença na gravidade não tem. Mas eu acrescentaria que minha “crença” na evolução também me afeta em maneiras muito mais pessoais que a mera aceitação da teoria. Ela me leva a refletir sobre como eu me relaciono com os outros seres vivos, como eu me insiro na história natural do universo, como eu devo tratar os animais, o que eu deveria pensar sobre os primatas, e assim por diante. A evolução tem um poder transformador que muda a maneira como uma pessoa se relaciona com o mundo a seu redor – de formas que não se diferem muito da crença em Deus.

Uma pesquisa recente do Pew Forum apontou que 31% dos norte-americanos dizem que o homem e outros seres vivos foram criados exatamente como são, desde o início dos tempos; 32% dizem que eles evoluíram por processos naturais; e outros 22% falam em evolução “guiada por um ser supremo”. Isso é possível, ou o termo esconde visões como o Design Inteligente?

Uma “evolução guiada” é aceita por muitas pessoas, especialmente cristãos com conhecimento científico. Ela aparece sob nomes diversos, como “evolução teísta”, “criacionismo evolucionista”, ou “BioLogos”, o termo que usamos para nosso projeto (e que escolhemos para escapar da bagagem negativa que vem com o termo “evolução”).

Mas a ideia de que Deus guia a evolução é bem complexa. Para ela ser relevante, não podemos simplesmente pegar a versão secular da história e dizer “foi Deus quem fez”. É preciso fazer afirmações teologicamente sólidas sobre o que Deus fez ou está fazendo, e sobre como Ele está envolvido no processo.

Eu diria que nós, no BioLogos, defendemos uma versão limitada dessa “evolução guiada”. Nós acreditamos que ela é guiada no sentido de que o cenário como um todo está cumprindo as intenções do criador, mas, dentro dessa noção ampla, os detalhes incluem vários eventos aleatórios e contingentes.

Permita-me contar uma anedota para me fazer entender: quando ensino evolução a estudantes evangélicos no Eastern Nazarene College, eles normalmente se incomodam com a ideia de que Deus pode trabalhar de forma invisível através das leis naturais. Isso não se parece com o Deus bíblico que fala na sarça ardente, criou Eva tirando uma costela de Adão e fez chover fogo sobre Sodoma e Gomorra. Então eu pergunto aos alunos: “quantos de vocês creem que Deus os guiou até aqui?”, e muitos levantam as mãos. Em seguida pergunto “quantos de vocês foram guiados por meio de interrupções dramáticas e sobrenaturais do curso natural da vida?”, e ninguém levanta a mão.

A conclusão é óbvia: se Deus pode guiar pessoas através dos eventos corriqueiros do dia-a-dia, Ele pode guiar a história natural trabalhando por meio das leis da natureza. E aqui temos uma diferença fundamental em relação às alegações do Design Inteligente: não é necessário que Deus interrompa o curso natural das coisas para, de vez em quando, fazer diretamente parte do trabalho criativo. Em vez disso, temos um Deus que permeia todo o processo.

Além disso, o DI não é exatamente um ponto de vista particular. O saco de gatos deles é tão grande que inclui gente muito diferente: intervencionistas que aceitam a evolução desde que Deus dê as caras de tempos em tempos de forma detectável; criacionistas da Terra jovem; criacionistas da Terra antiga; e até gente que não crê em Deus. O livro de DI mais recente (Signature in the cell, de Stephen Meyer) diz que Deus criou a primeira célula, e daí em diante a seleção natural se encarregou do resto. É um tipo de “deísmo biológico”. O DI não passa de um movimento político em que antievolucionistas concordaram em deixar de lado suas divergências para combater a evolução. O caráter político do DI está se tornando cada vez mais evidente, e há sinais de que o movimento esteja perdendo força.

Mas se o processo evolucionário é movido a competição, seleção natural e mutações genéticas aleatórias, a “atividade criativa de Deus” não tem um papel pequeno demais para um ser todo-poderoso?

No fim das contas, precisamos olhar para a ciência. Parece mesmo que Deus está intervindo de formas dramáticas ao longo da história natural? Nós não podemos colocar Deus numa caixa feita de acordo com nosso interesse e insistir que Suas ações se conformem à nossa ideia de como Deus deveria se comportar.

Eu perguntaria, a quem prefere uma “presença” maior de Deus na história, de que modo eles procuram por Deus no mundo. Essas pessoas buscam um Deus das lacunas, que aparece naquilo que a ciência não explica? Ou buscam por Deus na grandeza de um pôr-do-sol, na nobreza de um voluntário de sopão, ou no sorriso de uma criança? Sem saber, nós aderimos à teologia de um Dawkins quando insistimos que Deus deve funcionar como um engenheiro cujas ações devem ser claramente identificadas pela ciência.

Seu livro relata casos de ridicularização dos criacionistas na mídia, como em episódios dos Simpsons, mas o senhor acredita que essa estratégia não é muito adequada para levar as pessoas a aceitar a evolução. Como, então, levar o público a ver a compatibilidade entre evolução e fé religiosa?

A chave, para a maioria, é desenvolver uma compreensão da Bíblia que vá além do que aprenderam no catecismo ou na escola dominical. O catecismo conta histórias sobre o Gênesis que são adequadas para crianças, mas depois ninguém revisita essas histórias para ajudar os jovens adultos a criar uma visão madura do Gênesis. Descobrir que o livro sagrado tem várias indicações de que não se trata de história literal é uma experiência libertadora para os cristãos. Se nosso primeiro contato com a criação segundo o Gênesis ocorresse na vida adulta, não aceitaríamos tão rapidamente a literalidade das histórias de cobras falantes, jardins mágicos e Deus “descendo do céu” para conversar com Adão e Eva diariamente. Mesmo os nomes dos personagens principais são pistas. A palavra hebraica para Adão significa apenas “homem”, e Eva significa “vida”. Pense numa história em português, ou inglês, sobre um casal chamado Homem e Vida num jardim mágico. Será que não entenderíamos imediatamente que não se trata de registro histórico?

Também é importante – embora não tanto quanto a questão da Escritura – o fato de que existe uma montanha de evidências a favor da evolução. O mapeamento do genoma comprova sem sombra de dúvida que os humanos e outros primatas têm um ancestral comum. Apresentar essa evidência é muito importante para ajudar as pessoas a fazer essa transição.

O que funciona melhor para quem nega a evolução: mostrar a evidência favorável à evolução, apelando para a razão? Ou mostrar que a evolução não prejudica a crença em Deus, apelando para a religiosidade?

É fundamental proteger a religião dos supostos “ataques evolucionistas”. A maioria das pessoas está mais preocupada em estar de acordo com sua religião do que em estar cientificamente atualizadas. O problema no caso dos cristãos evangélicos, infelizmente, é que existem prateleiras sem fim de livros argumentando que a ciência comprova o criacionismo. Para a maioria das pessoas leigas no assunto, a batalha nem é entre ciência e religião, e sim entre “a ciência de que eu gosto” e “a ciência que ataca minha religião”.

No seu livro o senhor parece um tanto pessimista e desiludido sobre o rumo da discussão sobre a evolução, que deixou de ser uma busca pela verdade científica e se tornou uma guerra cultural, onde o que importa é desmoralizar o adversário. Nós realmente chegamos a um ponto sem volta?

Temo que sim. Algumas semanas atrás eu estava em um impressionante museu no Kentucky, mantido pelo Answers in Genesis, o maior e mais eficiente promotor do criacionismo de Terra jovem em todo o mundo. Eles têm uma livraria enorme e, enquanto eu a explorava, era esmagado pelo gigantismo do esforço feito para atacar a evolução. Havia centenas de livros, DVDs, material didático para todas as séries (até pré-escola), canecas, camisetas com mensagens antievolução… Answers in Genesis é uma máquina de propaganda multimilionária, com o propósito de convencer cristãos de que eles não devem acreditar em evolução. Eles têm revistas, um site cheio de informações, workshops, um time de “cientistas”, livros sem fim e muito mais. Tudo isso ruiria se eles se convencessem de que a evolução é real. Por outro lado, eu não consigo imaginar como fundamentalistas científicos como Richard Dawkins e Daniel Dennett fariam as pazes com fundamentalistas religiosos como Ken Ham, o chefe de Answers in Genesis.

Bento XVI, quando era cardeal, pediu que houvesse um debate honesto sobre a legitimidade das afirmações metafísicas feitas em nome da teoria de Darwin. Na sua opinião, cientistas como Dawkins “sequestraram” Darwin como fizeram os eugenistas descritos em seu livro?

Certamente Dawkins e o Novo Ateísmo sequestraram Darwin, e nós deixamos que eles dessem o tom do debate em termos de explicação científica, e não de Metafísica. A ciência leva crédito pelo que pode explicar, e Deus leva crédito pelo resto. Se Deus não é necessário para explicar o que a ciência vai desvendando, Ele não é mais necessário para nada. Nós deixamos um “antiteólogo”, Dawkins, nos dizer o que a Teologia pode ou não fazer.

Apesar de descrever o criacionismo como um fenômeno norte-americano, o senhor alerta que ele está se tornando global. De fato, um dos criacionistas mais famosos do mundo hoje é um muçulmano turco, Harun Yahya. É possível frear a expansão do criacionismo?

Se o criacionismo, profundamente hostil à ciência, conseguiu fincar raízes nos Estados Unidos na mesma década em que pusemos o homem na Lua, é impossível impedir que ele finque raízes num país como a Turquia. O criacionismo tem uma vantagem injusta sobre a ciência: ele continua reciclando qualquer alegação que funcione, ainda que já tenha sido refutada. Isso é tão prevalente que até Answers in Genesis tem uma página em seu site com argumentos antievolução que já foram rebatidos, mas muitos criacionistas não estão nem aí e continuam usando esses mesmos argumentos.

No caso de Harun Yahya nós podemos receber socorro de outra direção. Ele tem sido acusado de ligação com o crime organizado. Se ele fosse para a cadeia, a causa da ciência na Turquia ganharia tanto quanto ganhou nos Estados Unidos quando Kent Hovind (um criacionista da Terra jovem acusado de diversos crimes de ordem fiscal) foi preso.

2009 é o ano de Darwin, pelo bicentenário de seu nascimento e pelos 150 anos de A origem das espécies. Com o ano quase no fim, qual sua avaliação dos esforços feitos para contra-atacar os argumentos criacionistas e promover a conciliação entre religião e evolução?

Esse foi um ano interessante. Por um lado, o Novo Ateísmo dominou a agenda, alinhando-se tanto contra o criacionismo quanto contra a religião em geral. A reação por parte de pensadores religiosos consolidou a polarização, que provavelmente responderá pela parte mais ruidosa do debate nos próximos anos.

Mas, entre esses dois extremos, vozes moderadas se levantaram. Intelectuais agnósticos ou não-religiosos contestaram a posição ateísta de que “a religião é má e deve sumir”. Michael Ruse, Chris Mooney, Eugene Scott e outros afirmam que alienar as pessoas religiosas em nome da ciência só pioraria as coisas para a própria ciência ao alimentar o antievolucionismo. E também – e nisso eu tenho um papel relevante – houve o surgimento da Fundação BioLogos, criada por Francis Collins para incentivar a conciliação entre evolução e cristianismo. Apesar de – ou talvez por causa de – ser uma ponte entre ciência e fé, temos sido criticados pelos dois extremos, enfurecendo todo mundo, de Ken Ham (do Answers in Genesis) e Bill Dembski (do Discovery Institute, promotor do DI) até Sam Harris e Jerry Coyne, dois líderes do Novo Ateísmo.

A experiência do BioLogos tem sido estimulante. Somos a única voz dentro do cristianismo evangélico lutando pela harmonia entre ciência e fé – o que inclui, claro, a aceitação da evolução. Nós esperávamos ser um pequeno e solitário grupo que cresceria com o tempo, mas descobrimos que já existe um número considerável de cristãos, geralmente entre as camadas mais instruídas, que já compartilhavam da nossa posição, mas estavam marginalizados porque não havia quem os representasse em público. Nós estamos emergindo como o Flautista de Hamelin da Ciência, atraindo cristãos e conseguindo enorme apoio. Quase diariamente alguém nos manda um e-mail querendo saber como participar. Isso é encorajador e me faz pensar que talvez haja uma luz no fim deste longo túnel da anticiência.

Karl Giberson – entrevista – Tubo de Ensaio