God, Sky & Land: Genesis 1 as the ancient hebrews heard it – Brian Bull and Fritz Guy

junho 26, 2012

[…]Alguém com a firme convicção de que o fluxo de inspiração sempre flui diretamente de Deus ao profeta, sem nenhuma ondulação ou perturbações, e que Genesis é para ser entendido como algo vind de Deus para o profeta escrever, pode razoavelmente  concluir que a Terra tem apenas alguns milhares de anos de idade e que cada ser vivo e a terra mesmo vieram a existir durante seis dias consecutivos e contíguos de 24 horas. Seguir essa linha de raciocínio leva esta pessoa a ver a desconexão entre Genesis e a ciência como um desentendimento passageiro que, questão de tempo, va desaparecer – quando mais evidências científicas forem descobertas. Então a única coisa requerida é paciência. Afinal de contas, Deus falou aos profetas o que era para escrever, Deus é onisciente, e com certeza Deus não pode mentir, certo?

Se, por outro lado, o caminho da inspiração é entendido como sendo um pouco mais complicado – como na abordagem “Deus, a comunidade e os profetas” – então as descobertas da ciência podem ser levadas a sério na medida em que acontecem. Como consequência há uma séria e  e contínua tentativa de incorporar essas descobertas em uma compreensão sobre como são as coisas e como elas chegaram a ser assim. Há um reconhecimento de que quando Genesis foi escrito, tanto o profeta (o autor) quanto a comunidade à qual pertencia representarem uma realidade que consistia do céu, da terra, e era protegida do caos por uma abóbada sólida. Assim, a abóbada completava um ciclo a cada vinte e quatro horas e levava consigo “a luz maior”, a “luz menor” e as estrelas. Ou seja, há o reconhecimento de que “o céu e a terra” de Gênesis 1 difere enormemente do “universo” que conhecemos hoje.

Todos concordam que “Deus não pode mentir”. A questão aqui, entretanto, é um pouco diferente – ou seja – “Deus escreveu Gênesis?” Um número significtivo de cristãos poderia responder sim, Deus escreveu Gênesis;  de fato, Deus ditou Gênesis para os profetas, que por sua vez gravaram as palavras em placas, pele ou papiro. Há um único Autor, que em épocas diferentes e lugares diferentes, empregou vários secretários humanos.

Esta, obviamente, não é a única resposta possível à questão da autoria divina de Gênesis. Outros cristãos podem responder que a Bíblia, apesar de ser divinamente inspirada, tem conceitos, linguagens e lógicas que são essencialmente humanas. Como poderia ser de outra maneira? Certamente que a mente de Deus não pode ser expressa em linguagem humana. A inspiração divina iluminou e motivou o profeta, mas não eliminou a humanidade dele. E ser humano implica em ser condicionado pela própria inteligência, interesses, experiência e informação; e os interesses, experiência e informação são condicionados pelo contexto cultural da pessoa. Portanto, ao mesmo tempo que alguém diz que Deus foi o inspirador de Gênesis 1, pode também dizer que Deus não foi o escritor imediato.

Qualquer um que tenha realmente ouvido o que a Bíblia diz, e tenha refletido seriamente sobre sua “inspiração”, considera esta última perspectiva mais adequada à evidência bíblica. Os vários estilos literários e diferentes processos de pensamento tornam evidente que na Bíblia não temos apenas o resultado da inspiração divina, mas também a marca de uma grande diversidade de mentalidades humanas. Precisamos apenas olhar para (e realmente ouvir) a diversidade presente no conteúdo da Bíblia. Não só temos que Deus não é o autor direto da Bíblia, como os conceitos explanatórios que ela contém, também não são os conceitos explanatórios do próprio Deus.

Não é uma expressão de presunção reconhecer que a humanidade adquiriu uma imensa quantidade de informação adicional, novos conceitos e entendimentos gerais do mundo natural, desde que Gênesis 1 foi escrito. É totalmente razoável supor que boa parte dessa informação adicional e nova compreensão, representa algum tipo de progresso no entendimento de “como as coisas realmente são”. Enquanto pode fazer total sentido para o autor de Levítico listar os morcegos entre as aves impuras das quais não se deve comer (11:19), agora todos sabem que morcegos são mamíferos, e não aves. Da mesma forma, pareceu inteiramente apropriado ao escritor do evangelh0 de Mateus, representar Jesus descrevendo a semente de mostarda como “a menor de todas as sementes” (13:32), enquanto os botânicos de hoje sabem que as menores sementes são as das orquídeas.

Então, não é de surpreender que os conceitos que usamos para explicar a origem e operação do universo, diferem dos conceitos que a audiência que ouviu Gênesis 1 pela primeira vez, tinha. E porque nós tivemos mais tempo, oportunidade e meios de explorar essas coisas, e desenvolvemos formas de acumular vastas quantidades de informação, é evidente que nossos conceitos e entendimentos atuais  a respeito do mundo natural estão mais próximos da verdade. Entretanto, precisamos lembrar que nossa informação, conceitos e entendimentos também são limitados, e ainda há muito a aprender. Nossos conhecimentos atuais sobre o universo podem também ser vistos com estranhamento pelos nossos sucessores, assim como a cosmovisão apresentada em Gênesis 1, parece para nós.

O que temos em Gênesis 1 não é uma descrição da realidade física como entendemos que seja hoje, e sim, como essa realidade era entendida pelo autor do livro de Gênesis, e sua comunidade. […]

God, Sky & Land: Genesis 1 as the ancient hebrews heard it – Brian Bull and Fritz Guy – Amazon.com

Tão simples. Mas as pessoas preferem complicar e debater eternamente a respeito.


Finding Darwin’s God – Kenneth R. Miller

setembro 8, 2011

[…]No início deste capítulo, deixei claro que a crença religiosa não requer que sejam detectadas falhas ou inadequações na evolução. Esta pode não parecer uma ideia radical, mas está longe de ser uma ideia comum. Mais de uma vez, quando religiosos descobriram que sou biólogo, e acharam necessário dizer alguma coisa sobre a grande sombra do Darwinismo, eles escolhem o que obviamente esperam ser uma linha diplomática: “Bem, você provavelmente sabe melhor do que ninguém, que a evolução é apenas uma teoria. Certo?”

A evolução não é apenas uma teoria. Atualmente, usamos o termo “evolução” de duas formas diferentes, e não parece ser má ideia se palavras distintas fossem usadas para estes dois significados – história e mecanismo – para usá-las de forma correta.

O primeiro significado da evolução é a história, uma história natural e viva, onde as raízes do presente se encontram no passado.[…] Significa que o passado foi caracterizado por processos no qual as espécies atuais podem ser rastreadas em ancestrais similares, porém claramente diferentes. E significa que quanto mais nos movemos para trás no tempo, com mais pedaços e peças deste registro histórico, encontramos uma diversidade de formas de vida muito diferentes das que vemos e conhecemos hoje.  Isto é, uma descrição acurada sobre o que sabemos sobre o passado da vida no planeta.

Com relação a isso, a evolução é um fato tanto quanto qualquer outro que conhecemos em ciência. É um fato que os seres humanos não apareceram de repente nesse planeta, como criações sem ancestrais, e é um fato que os sinais desta ancestralidade são claros para a nossa espécie e para centenas de outras espécies e grupos de espécies. É verdade que o registro histórico é incompleto. sujeito a interpretações e aberto à revisões, especialmente à luz de novas descobertas. Não podemos saber ao certo o rumo que as descobertas vão tomar, e não podemos ter certeza se alguns destes sinais possuem erros ou mal entendidos que um dia  serão corrigidos. Sobre o assunto de saber se esses sinais existem ou não, podemos ser definitivos. Eles existem, e ponto. Evolução é um fato.

E no que diz respeito ao segundo significado da evolução, como teoria? A grande contribuição de Darwin, como tenho enfatizado, não foi o reconhecimento da evolução como processo histórico. Ao contrário, foi sua descrição de um mecanismo que poderia dirigir as mudanças evolutivas. A teoria evolutiva é um conjunto de explicações que procura esclarecer como esta mudança aconteceu  A teoria evolutiva leva em conta as contribuições relativas das mutações, variações e da seleção natural, e tenta entender como as ações interligadas de hereditariedade, sexo, probabilidade, ambiente e competição direcionam os detalhes da descendência com modificações.

A teoria evolutiva é um campo vigoroso e contencioso, como deve ser a boa ciência. Encontros científicos sobre este assunto são recheados de argumentações e discordâncias, e isso é uma coisa boa. O conflito intelectual, mesmo num nível pessoal, é bom para a ciência porque motiva os cientistas a testar suas ideias e as dos seus oponentes sob o escrutínio do experimento e da observação. A este respeito, o detalhado mecanismo pelo qual as mudanças ocorrem, é a teoria, mas teoria nesse contexto não significa que seja apenas um palpite sem fundamento. A teoria evolutiva não é um palpite sobre a natureza da vida, assim como a teoria atômica não é um palpite sobre a natureza da matéria, ou a teoria dos germes, pura especulação sobre a natureza das doenças. A teoria evolutiva é um conjunto bem definido, consistente e produtivo de explicações sobre como as mudanças evolutivas ocorrem.

A evolução é tanto fato quanto teoria. É um fato que as mudanças evolutivas acontecem. E a evolução é também uma teoria que procura explicar o mecanismo detalhado por trás destas mudanças.

Seria legal fingir, como muitos dos meus colegas cientistas fazem, que o estudo da evolução pode ser conduzido sem ter qualquer efeito na religião. De certa forma, invejam outros campos científicos – como a química orgânica ou a oceanografia – que podem prosseguir a toda velocidade, sem nunca terem que serem jogados na arena religiosa.[…]

[…]Existe alguma possibilidade de que os “geólogos do dilúvio” sejam cientistas genuínos e sinceros? É possível que sejam pioneiros solitários trabalhando numa grande e nobre tradição, lutando por respeitabilidade e, em última análise, para provar suas ideias?  Não penso que seja assim; e digo que não se trata de um julgamento de caráter, mas uma avaliação do comportamento científico deles. Se eles realmente acreditam na validade das suas interpretações da história fóssil, deviam estar loucos para explorar uma grande oportunidade científica: os coprólitos.

Coprólitos são fezes fossilizadas. Ao longo dos anos, os paleontologistas têm encontrado milhares destes fósseis, incluindo um notavelmente descrito num artigo da revista Nature, em 1984, com o título “A Kingsized Theropod Coprolite.” O tamanho e localização do objeto, indicam que foi produzido por um dinossauro carnívoro, provavelmente um Tiranossauro. O coprólito está recheado com grandes fragmentos de ossos parcialmente digeridos. Outros coprólitos estão também disponíveis, se nossos colegas preferirem, de mamíferos ancestrais, pleiossauros (répteis nadadores), e até de insetos. Para os criacionistas de Terra Jovem, estes fósseis apresentam uma oportunidade única para validarem suas ideias. Tudo que teriam que fazer, seria explorá-los e encontrar evidências de um único organismo contemporâneo. Grãos de pólen microscópicos de plantas modernas, seriam suficientes, no caso de dinossauros herbívoros. Se pudessem encontrar um pedaço de osso de atum, no estômago desses pleiossauros, sacudiriam o mundo da geologia, demonstrando que criaturas da antiguidade e do mundo contemporâneo coexistiram lado a lado antes do dilúvio, como eles sempre disseram. Os criacionistas de Terra Jovem não fazem este esforço. Eles se mantêm cuidadosamente longe de qualquer tipo de contato com evidências genuínas, como o fato de que o sistema digestivo dos pleiossauros estava cheio de amonitas, moluscos extintos, que viveram na mesma era geológica.[…]

[…]Então, como vimos, o designer (inteligente) produziu um organismo após outro, em lugares e sequências que poderiam ser posteriormente, erradamente interpretadas como a evolução, por uma de suas criaturas (pobre Charles Darwin! =P). E apenas para ajudar na composição deste mal-entendido, ele (o designer) se certificou de que os primeiros membros que desenhou, se parecessem com barbatanas modificadas, e que os primeiros maxilares que projetou, se parecessem com arcos branquiais modificados. Ele ainda se deu ao trabalho de garantir que os primeiros tetrápodes tivessem caudas como as dos peixes, e que as primeiras aves tivessem dentes, como os répteis. Tão pensador esse designer, que depois de ter desenhado mamíferos para viver exclusivamente em terra, redesenhou alguns poucos, como as baleias e os golfinhos, para viver na água – mas não antes de ter desenhado criaturas que viviam de forma dividida: tanto na terra quanto na água.  Trabalhando desta forma mágica, este designer escolheu criar formas exatamente intermediárias entre mamíferos terrestres e mamíferos aquáticos.

Seria legal, fingir que esta descrição não é nada mais do que uma polêmica irreverente, um puxão desagradável de orelha na oposição. Mas não é. É uma boa descrição, de um pouquinho do que qualquer defensor do design inteligente deve acreditar, no sentido de enquadrar suas crenças, com os fatos da história geológica. E isso é apenas o começo.[…]

Finding Darwin’s God: a scientist’s search for common ground between God and Evolution – Kenneth R. Miller

Recomendado!


Disneylândia da fé

dezembro 11, 2010

por capelão Mike

Deixe-me dizer já logo de cara – sempre gostei dos filmes e personagens Disney. Da minha infância, quando meus pais me levaram à Disneylândia, depois quando nadei no mar agitado junto com Pinocchio para escapar da baleia Monstro, aos dias quando nós e nossas meninas curtimos A pequena sereia e A bela e a fera juntos, até hoje, quando apresento meus netos para o que chamamos filmes “clássicos”, a Disney tem sido parte da minha experiência e da minha vida familiar.

Mas sei o que a Disney é e o que faz – Eles pegam histórias clássicas e fazem cartoons com elas.

A Disney não me induz a pensar que o que eles fazem é uma grande arte que contém ensinamentos profundos para a vida e experiência humanas. Aceito e curto eles pelos que são, não mais. Seus artistas e animadores são de primeira classe, e o que fazem, sabem fazer muito bem. Mas se você está falando sobre seus filmes, seus parques temáticos, ou seu merchandising generalizado, o fato é que a Disney é uma corporação da área de animação. Eles pegam estórias que são clássicas por causa dos seus temas universais, e simplificam de uma forma que tanto crianças quanto pais e mães podem apreciar juntos. Removem toda desordem, toda a complexidade, as nuances dessas estórias e fazem uma limpeza nelas para que se encaixem numa audiência de entretenimento moderna. São agradáveis, mas tão sutis quanto um soco no rosto; tão profundos quanto aquela poça d’água que se forma na minha garagem depois de uma chuva fina.

Infelizmente, muitos líderes cristãos americanos, parecem pensar que o método da Disney é o método que a igreja deve seguir. Eu poderia escrever um longo livro, sobre todos os exemplos disso por todo o nosso país, com as muitas formas pelas quais nós vendemos Jesus em livros, músicas, mídia, desde o excesso apelativo dos tele-evangelistas e da excelência corporativa das mega-igrejas, aos monumentos icônicos, como a Crystal Cathedral. Muito disso representa a mentalidade do “Reino Mágico”.

No mundo caricatural do evangelicanismo americano contemporâneo, é tudo maior, melhor, mais simples. Ajude o pessoal a acreditar que seus sonhos podem se tornar realidade. Crie “momentos” para as pessoas na congregação que elas nunca mais esqueçam, abençoem as famílias em locais seguros e higienizados. Remova a desordem e a realidade da vida diária. Em vez disso, coloque no lugar uma versão sentimental da vida e que toque o coração na tela, e faça as pessoas sentir isso. Abrace as possibilidades.

O evangelicanismo se tornou “Disney-lizado”.

Por exemplo, entre no mundo Mickey Mouse de Ken Ham e seu parque temático para a fé cristã.

O sempre vigilante correspondente do Internet Monk em Ohio, Jeff Dunn, reportou na edição de ontem do Saturday Ramblings, que Ken Ham e companhia estão na área novamente. O Creation Museum, perto de Cincinnati, decidiu se expandir e construir um parque temático com 800 acres, de estilo complexo, e com uma réplica da arca de Noé. O projeto terá um custo estimado de 125 milhões de dólares, e está planejado para ser inaugurado em 2014, perto de Williamstown, KY.

Alguns questionaram se é legalmente permissível para o estado de Kentucky fundar um parque temático religioso. Eu coloco outra questão: É apropriado para os cristãos “Disney-lizar” a fé desse jeito?[…]

[…]Como pode qualquer cristão racional apoiar um projeto como esse? Sei que alguns de vocês vão escrever e reclamar que estou sendo crítico demais, e por que Deus  não pode usar isso para levar outros a Cristo e ensinar pessoas sobre a bíblia? Por favor. Vou responder isso da forma mais clara, direta e contundente que puder – este projeto não tem nada a ver com o cristianismo bíblico.

Isso é uma caricatura da fé. Representa a “Disney-lização” da história bíblica. Quero dizer, seriamente, o povo cristão está gastando 125 milhões construindo essa imitação grotesca, e então, os crentes americanos sem discernimento vão gastar outros milhões e milhões, para ser doutrinados, impressionados pelo espetáculo e uma versão agradável e desinfetada da história bíblica. Ônibus cheios de jovens em busca de entretenimento serão “educados” numa interpretação “bíblica” do dilúvio que tem sua “gênesis” não na Torah, mas nas visões de Ellen G. White, cujos “conselhos inspirados pelo Senhor”, guiaram o movimento sectário adventista do século XIX.

Essas visões ganham vida numa verdadeira aparência Disney – apelo esmagador, sentimentalismo piegas, um fino verniz de credibilidade, e mais importante, a convicção absoluta da crença inabalável em detrimento de qualquer evidência contrária ou interpretações que sejam contraditórias. Este projeto é fundamentalismo em sua pior forma criativa. Não nos leva ao Jesus real, ao Jesus da bíblia. Nos leva a uma caricatura de Jesus, o Jesus Disney, a versão americana e desinfetada de Jesus, o Jesus que nos diverte, e mantém tudo seguro, para toda a família poder desfrutar. O Jesus que nos dão é o herói Jesus que viveu e morreu na tela em toda a sua glória, não o “homem de dores” que sofreu e morreu na cruz em vergonha. Este Jesus foi elaborado e trazido à vida para nós por fornecedores de tecnologia espiritual, não compartilhada conosco por apóstolos como Paulo fez – em meio a uma vida diária humilde de sofrimento e am0r, em nome de Jesus. Existe o “método de Jesus” e existe o “método Disney“, e o abismo entre eles é muito vasto.

Não sei você, mas quando se trata da fé, eu prefiro a coisa real, não uma caricatura Disney.

Vou falar de novo. Este projeto não tem nada a ver com o cristianismo baseado no Jesus bíblico. Isso é promoção de uma ideologia, pura e simplesmente. É um desejo mesquinho de ser estrela do fundamentalismo, exibindo uma abordagem da fé que não tem nada de sutil, nada de misterioso, nada de humano. Sem dúvidas, apenas certezas. O tipo de certezas que tem audácia suficiente para pedir para as pessoas 125 milhões de dólares para construir um parque de propaganda pretensiosa. Pelo menos Walt Disney teve caráter suficiente para aprender uma profissão, trabalhar, e construir um negócio para financiar seus sonhos.

Leia o texto inteiro aqui: The Disney-ization of Faith – Chaplain Mike – Internet Monk

Disse tudo que eu estava com vontade de dizer, depois de ler essa notícia absurda. 125 milhões de dólares num parque temático fundamentalista idiota, enquanto mais de um bilhão de pessoas não tem comida para colocar no prato. Que tipo de “cristianismo” é esse? Eu coloco essa Disneylândia da fé com direito à réplica da arca de Noé, no mesmo nível daquela réplica do templo de Salomão que o sr Edir Macedo pretende construir em São Paulo.


O que incomoda os criacionistas?

setembro 19, 2010

por Donald E. Simanek

Motivações dos criacionistas e advogados do Design Inteligente

Criacionistas e divulgadores do design inteligente são claramente e fortemente motivados a terem seus pontos de vista reconhecidos como cientificamente respeitáveis, e a impor os mesmos no currículo científico escolar. Qual é a fonte dessa motivação? O que os incomoda tanto no modo como a ciência é ensinada?

Ciência e ensino de ciência não lidam com qualquer coisa sobrenatural, e então você pode pensar que isso não seria nenhuma ofensa a pessoas religiosas. Mas, de fato, é essa a grande razão do seu descontentamento. Ciência sem o sobrenatural, é, para eles, materialista, e por não incluir Deus, está implicitamente negando a importância dEle, ou até mesmo a existência de Deus. No mínimo, deixando Deus (ou qualquer entidade criadora/designer sobrenaturais) fora das ciências naturais, seria o mesmo que dizer que a natureza passa muito bem sem Deus.

A ciência não responde perguntas do tipo “por quê?”, mas apenas as do tipo “como?” As religiões geralmente tratam as questões “por quê?” como as mais importantes e mais significantes, e ficam ansiosos para fornecer suas próprias respostas a essas questões. Sendo assim, porque esses dois pontos de vista entrariam em conflito, se a ciência e a religião possuem seus próprios territórios? Os cientistas, mesmo quando são religiosos, geralmente não impõem seus pontos de vista às religiões. Porém, muitas pessoas religiosas, especialmente as evangélicas, sentem que devem impor seus pontos de vista em todos os lugares e a todas as pessoas. Mais ainda, ficam ofendidas quando alguém falha em reconhecer as “verdades” que para elas são auto-evidentes. Por muitos anos, fundamentalistas e evangélicos percebiam a si mesmos como marginalizados. Sentiam-se desrespeitados. Agora, pelo menos nos Estados Unidos, eles têm motivos para sentir que essa situação, pelo menos na esfera pública, está mudando. São poderosos, e estão prontos para usar esse poder para atingir seus objetivos sociais e políticos.

As religiões mais moderadas não estão entrando nessa. A maioria delas se sente confortável com a teoria da evolução. Qualquer um pode crer num criador/designer/Deus e aceitar a evolução. No final, Deus é sempre visto como perfeito e poderoso, e certamente capaz de desenhar um universo que se auto-sustenta, sem requerer manutenção ou consertos. Tal ponto de vista não requer que um Deus ocasionalmente invente novas espécies, como o design inteligente assume. Permite que o universo siga seu curso por meio de processos naturais. E são esses processos naturais que a ciência estuda e descreve.

Um universo auto-suficiente não fornece evidências para um designer, como vimos, por isso a evolução pode ser entendida somente por processos naturais. Os proponentes do DI querem encontrar evidências para um designer, e uma dessas evidências são as “lacunas” (transições inexplicáveis) na sequência evolucionária (incluindo lacunas no registro fóssil). Estas, dizem eles, são evidências de que um designer inteligente interveio para fazer novas espécies, ou para preencher uma lacuna que os processos naturais não poderiam preencher.

Resumindo, essas pessoas querem um designer inteligente “ativista”, o qual continuamente, ou no mínimo periodicamente, intervém na operação do universo. Um universo auto-funcional não poderia mostrar qualquer evidência de um designer onipresente.

Teoria das lacunas

Esse “deus das lacunas” cumpre seus propósitos? Vamos imaginar por um momento. Suponha que essas lacunas sobre as quais os criacionistas falam são tão sérias que nenhum processo natural concebível pode superá-las. Suponha que uma nova espécie surge subitamente num determinado momento, sem qualquer evidência de que possa ter se desenvolvido de outras espécies. [Não importa, nesse momento, que nenhuma espécie tenha surgido na história, sem que tenha havido qualquer semelhança biológica com espécies anteriores.] Então, dizem os proponentes do DI, isso é uma “evidência” de um designer que incluiu esse novo critério de design na timeline da biologia. O que? Como pode ser? Isso apenas indica que (a) não encontramos evidências que preencham essa lacuna, ou (b) não fomos inteligentes o suficiente para enxergar os processos envolvidos ou (c) talvez algum processo natural que nunca imaginamos antes, talvez até leis da natureza ainda desconhecidas para nós, estejam em operação. Se você listar todas as possibilidades, pode imaginar ainda toda sorte de cenários sobrenaturais fantásticos (mas fazendo isso, você não está fazendo ciência, mas algo mais parecido com ficção científica).

Então, vamos imaginar essa possibilidade, somente para fins práticos. Talvez existam outros universos. De tempos em tempos, um deles sofre intersecção com o nosso, e alguns animais alienígenas, plantas ou outros organismos vindos desse outro universo, atravessam a intersecção e passam para o nosso universo. Esse cenário pode ser provado? Não, a assim chamada evidência da lacuna não é específica o suficiente para suportar essa possibilidade particular, ou qualquer outra, nem para refutar qualquer outra possibilidade imaginável. Em outras palavras, tal “evidência” é inútil para demonstrar qualquer coisa que seja.

Suspensões ou interrupções nas leis naturais são chamadas de “milagres”. [Podemos nomear até mesmo coisas que não podem acontecer.] Seja lá como for que você chame isso, se suspensões das leis naturais viessem a acontecer, não nos diriam nada de útil sobre coisa alguma. Além disso, não temos provas concretas e cientificamente aceitáveis de que milagres têm ocorrido na história do universo.

Vamos observar isso de outra perspectiva. Como é que conseguimos aprender alguma coisa sobre o funcionamento da natureza?  Apenas porque a natureza trabalha de forma regular e sólida. Uma vez que descrevemos um comportamento numa lei da natureza, temos aprendido que podemos estar seguros de que a natureza não vai nos pregar uma peça e mudar aquela forma de comportamento. Mas se coisas irregulares e imprevisíveis acontecem aqui e agora (reais, e não apenas devidas a falhas nos dados), não podemos construir ciência com base em tais coisas. Os métodos da investigação científica seriam incapazes de nos dizer qualquer coisa sobre as razões para tais acontecimentos, ou para prever quando a próxima irregularidade poderia acontecer.

Como os criacionistas e defensores do DI agem para obscurecer esses fatos simples? Normalmente, enterram as feias deficiências das suas teorias numa pilha de disparates e ofuscação (tradução: lixo irrelevante). A decepção é assim. Pegue um conceito que é geralmente e acriticamente aceito por várias pessoas, mesmo não sendo suportado por qualquer evidência (como a ideia de um criador/designer sobrenatural). Então, aponte para evidências que supostamente o apoiam. O conceito precede a evidência, e já está enfeitado com atributos: inteligência, poder, invisibilidade e perfeição.  Os atributos são prontamente e acriticamente aceitos por pessoas que não são cientistas. Então, qualquer evidência que pareça preencher esses atributos é contada como uma evidência, que prova a existência de uma entidade “criadora/designer”. É por isso que os argumentos do DI têm efeito sobre aqueles que possuem pouco conhecimento de ciência e pouca experiência em reconhecer argumentos disparatados. Há uma grande diferença entre um argumento que apenas “parece bom”, e um argumento verdadeiramente bom.

Em ciência, as evidências precedem as teorias. Insistimos que as evidências devem ser especificamente o suporte de uma teoria. Se as evidências suportam uma ampla gama de teorias diversas de forma igualmente boa, não consideramos qualquer uma dessas teorias como persuasivas. Teorias que são concebidas apenas para “explicar” uma pequena parte ou um pedaço isolado de evidências, não são levadas a sério. Teorias científicas devem ser capazes de incluir fenômenos diversos, e de unificar uma diversidade de leis, ou seja, devem ter um horizonte amplo.

Até agora, os defensores do DI não apresentaram qualquer pesquisa que tenha sido de qualquer utilidade para a ciência. De fato, ninguém pode encontrar qualquer pesquisa científica que eles tenham feito. Suas teorias são uma filosofia mascarada de teoria científica, ainda em busca de qualquer utilidade científica.

Os marketeiros do DI dispendem muito esforço escrevendo livros e artigos sobre “evidências” da “complexidade irredutível” – exemplos específicos encontrados na natureza que parecem não ter sido originados pela evolução. Não convenceram os cientistas, e cada um dos seus exemplos foi desacreditado. Mas sua produção sobre o assunto, serve para distrair o público que não percebe as falhas fatais da sua cadeia de argumentos. Suponha  que de alguma forma sejamos capazes de demonstrar de forma conclusiva que existe uma criatura com complexidade irredutível. Esse fato poderia levar a lugar nenhum, pois seria uma evidência de – absolutamente nada em específico. Tal evidência certamente não poderia provar suas hipóteses do DI ou mesmo sugeri-las. Então, estão perdendo tempo ao se concentrar nesse assunto.

Naturalismo e materialismo

Você de vez em quando ouve os criacionistas queixarem-se do “naturalismo” dos cientistas e do ensino de ciência. Um dos objetivos declarados dos defensores do DI é introduzir uma cunha entre a “ciência naturalista” e uma “nova” ciência que reconhece e inclui Deus.

Os criacionistas veem o “naturalismo” como um inimigo a ser combatido em todos os “fronts”, e tentam substitui-lo com o “realismo teísta”. Em resumo, é uma estratégia para “colocar Deus por trás de todos os aspectos da atividade humana, ciência, política, leis, educação”. Eles temem que o “naturalismo e materialismo” da educação científica levem suas crianças para longe de Deus, levando-as a rejeitar Deus, e então fazer todo tipo de coisas más. Na verdade, acham que isso já está acontecendo. Em seus escritos, os criacionistas igualam o naturalismo e o materialismo. Não são bons em fazer distinções sutis.

A ciência atual adota o “naturalismo metodológico” (NM), no qual a ciência é conduzida sem fazer afirmações sobrenaturais e sem usar  conceitos sobrenaturais. A ciência simplesmente se mantém em silêncio a respeito de questões sobrenaturais ou teológicas. Isso não se faz como forma deliberada de rejeitar Deus, mas simplesmente porque hipóteses sobrenaturais não contribuem nem iluminam a ciência de nenhuma forma.  São inúteis para a ciência.  Simone Laplace coloca isso muito bem quando perguntado sobre o porquê não havia menção a Deus em um de seus livros. Ele respondeu: “Não tenho necessidade dessa hipótese.” Cientistas podem, e muitos têm, crenças religiosas. Podem abraçar qualquer hipótese sobrenatural que queiram “nas horas vagas”, mas sabem que elas não têm nenhuma utilidade e nenhum lugar justificado  no seu trabalho científico.

Os criacionistas caracterizam esse naturalismo metodológico, muito prático e necessário, da ciência, como uma conspiração deliberada dos estabelecimentos científicos para destruir a religião e banir Deus da mente das pessoas. Esta pode ser a principal motivação dos criacionistas e defensores do DI.

Propósito

Os teístas, de vez em quando, olham para o mundo em geral e dizem “Com certeza esse mundo natural maravilhoso e perfeito ao nosso redor, deve ter um propósito.” Isso levanta a questão de um “design proposital” por um “designer inteligente”. Se você responde com olhar incrédulo e dizendo “Por que deveria ter um propósito?”, eles geralmente não podem acreditar que você seja sério.

Meu sentimento é “Como pode alguém pode dizer com uma cara séria que esse mundo é perfeito?”  Mesmo um teísta deve perceber que imperfeições são abundantes na natureza, e com um pouco de reflexão, pode fazer sugestões para o seu aperfeiçoamento. Os criacionistas gostam de citar o olho humano como um exemplo de design maravilhoso e perfeição funcional. Mas nem todos enxergam dessa forma. Hermann Helmholtz, que fez pesquisas pioneiras sobre os sentidos humanos, uma vez comentou que se um fabricante tivesse mandado a ele um instrumento tão mal desenhado como o olho, ele o devolveria para ser refeito. Nós agora compreendemos a evolução do olho humano razoavelmente bem. Houve uma série de pequenas mudanças que aperfeiçoaram sua performance, mas nunca o tornaram perfeito. Pergunte a qualquer um que sofra de catarata, degeneração macular, ou qualquer outro tipo de afecções da visão, sobre o design perfeito do olho. Alguns olhos de animais se desenvolveram ao longo de um caminho evolucionário diferente, e possuem algumas características que são melhores do que aquelas  com funções similares no olho humano. Por exemplo, alguns animais marinhos possuem seus receptores sensíveis à luz na retina, na frente do suprimento de sangue, enquanto os humanos os têm atrás de uma rede de vasos sanguíneos que obscurecem uma porção da retina da luz incidente. Mas, uma vez que um caminho evolucionário é seguido, há poucas chances de “voltar atrás” para corrigir esses erros. Estamos presos a eles. Qualquer cirurgião ortopédico poderia facilmente imaginar um design biológico melhor para o joelho humano, para a articulação do quadril, ou para a espinha.

E quem pode dizer que o câncer é uma coisa bonita e maravilhosa? Cite qualquer uma das outras deformidades horríveis e doenças que podem afligir o ser humano, e então fale sobre a beleza e perfeição da natureza.  É claro, os teístas possuem todo tipo de formas de passar por cima dessas coisas: “São o resultado do pecado no Jardim do Éden” ou “São trabalho do Diabo.” Mas temos que nos ater à ciência, e não divagar em contos de fadas.

Se um teísta pergunta, “Você tem certeza de que tudo isso tenha surgido por acaso cego e sem propósito?”, tenho que responder que as coisas que vemos acontecendo no universo não mostram nenhuma evidência de propósito, e são, nesse sentido, “cegas”. Acaso e probabilidade desempenham papéis na natureza, mas a geometria e as leis naturais devem ser levados em conta e são responsáveis pela “aparência de design”, por isso, nunca é “mero acaso”.

Esta é a razão principal pela qual os criacionistas rejeitam a ciência. Eles querem um universo com propósitos, e a ciência mostra não haver evidência desse tipo de coisa.  Eles gostam de pensar que o objetivo principal é a humanidade, e que somos feitos “à imagem de Deus”. A ciência não tem nada a dizer a respeito de tais noções.

Uma sugestão aos teístas

Como eu disse, a ciência não prova nem refuta qualquer crença sobrenatural, porque fica em silêncio a respeito desses assuntos. Entretanto, ofereço essa sugestão aos teístas, que não tem nenhum peso científico por trás. Os teístas poderiam simplesmente assumir que seu criador/designer/deus planejou o universo por declarar algumas leis naturais e imaginando uma matriz geométrica de tempo e espaço para essas leis operarem, e então, deixando a “natureza seguir seu curso”. O resultado é o que nós vemos hoje. Este criador não precisou voltar a mexer nisso ao longo do tempo, e o resultado é inteiramente aquele gerado pelas leis que o criador estabeleceu.  O universo não mostra evidências de que poderia revelar a forma pela qual foi criado. Então, a ciência o estuda e descreve seu comportamento  sem entrar em conflito com a religião. A religião pode lidar com questões sobre propósito divino, a existência do mal, das doenças e outros assuntos teológicos que por si mesmos não interferem em nada na ciência. Esta é essencialmente a posição de muitos religiosos moderados, que não têm nenhuma discussão com a ciência [1].

Obviamente, isso nunca vai satisfazer os criacionistas.

Os cientistas não são culpados

Vamos admitir que alguns cientistas sejam culpados de invadir assuntos teológicos. Ultrapassaram os limites do cogniscível em especulações puramente hipotéticas. Alguns deles escreveram livros nos quais os limites entre a ciência estabelecida e a especulação selvagem não são fáceis de ver. Muitas vezes, eles usam a palavra “crença”, sem qualificá-la como uma “tentativa ou aceitação provisória”.  Não mostram claramente e cuidadosamente as limitações dos dados atualmente conhecidos, e as limitações resultantes em nossas leis e teorias. Alguns são conhecidos por proferir a palavra “verdade”, a qual é inteiramente desnecessária no discurso científico. Alguns deles aparecem em livros escolares. O fato é que fantasias e ficção vendem livros, enquanto fatos puros, não. O público é sedento pelo fantástico e miraculoso. Esse tipo de coisa tem feito da ciência um alvo fácil, para aqueles que possuem apenas conhecimento superficial sobre como a ciência é realmente praticada.

Notas e considerações finais

[1] Neste ensaio, escrevi muito pouco em defesa da evolução. Não há necessidade disso. Evolução é um fato firmemente estabelecido, e nenhum dos defensores do DI mudou ou desacreditou os fatos da paleontologia, arqueologia, biologia, bioquímica e etc. (Os criacionistas tentam fazer isso, mas em todas as vezes levam ovadas na cara por distorcer ou interpretar erroneamente os fatos, ou o que um amigo caracterizou como “mentir em defesa de Deus.”) O que os defensores do DI reclamam, é que os cientistas não veem necessidade de intervenção sobrenatural em todo esse processo, e nenhuma evidência aponta para tal intervenção sobrenatural. Os defensores do DI querem uma interpretação alternativa para os fatos, e querem afirmar também que “um designer inteligente é responsável por tudo”. Agora, a noção de designer inteligente possui pelo menos três interpretações. (1) O designer planejou tudo, e desde então tudo funciona por si mesmo, sem manutenção ou intervenção; ou (2) o designer guia cada etapa do processo, ou (3) o designer só precisa intervir no processo natural de vez em quando, produzindo aparentes “milagres” que não podem ser explicados pelas leis naturais.  As duas primeiras interpretações são inteiramente consistentes com um processo evolutivo regido por leis. Apenas a terceira muda o entendimento evolucionário convencional, por suas alegações de que há etapas na evolução que não se encaixam nas leis naturais. As duas primeiras interpretações não geram nenhum conflito entre DI e a ciência.

What’s bugging the Creationists? Donald E. Simanek

De novo, como já falei várias vezes aqui, mesmo que se creia nesse “designer” que: ou planejou tudo, estabeleceu leis, e deixou o universo seguir seu curso sozinho naturalmente, ou planejou e guia as etapas do processo evolutivo, a decisão de crer nisso e incluir um Deus que desempenharia o papel do designer, já extrapola os limites da ciência. É uma opção pessoal, que cabe a cada um decidir por ela, por meio da fé, somente. Não há evidências científicas de que tal designer exista, por mais que os defensores do design inteligente digam o contrário, e a ciência não se ocupa desse tipo de questão. O que não acho que seja uma opção inteligente, é montar um sistema de crenças que negue os fatos da ciência ou tente se contrapor a eles, ou que se proponha a substituir a ciência por uma pseudo-ciência embasada em filosofias religiosas, como é o caso de boa parte dos criacionistas e defensores do design inteligente, que negam a evolução. Não admitem a evolução, por razões puramente religiosas, e então criam uma “teoria alternativa”, NÃO CIENTÍFICA, e pior ainda, usam meios pouco honestos para fazer com que essas “teorias alternativas”, sejam vistas como passíveis de substituir as teorias realmente científicas. Seria mais inteligente por parte de tais pessoas, aceitar o conhecimento científico como ele é, absorver os novos conhecimentos que vão sendo adicionados com o tempo, e então tentar construir uma visão dinâmica a respeito desse “designer”, que não obrigue ninguém a fazer guerra contra a ciência, ou ver a ciência como um inimigo a ser combatido. Os religiosos que acham que a ciência é um inimigo a ser combatido, deveriam também impedir a si mesmos de desfrutar dos benefícios proporcionados por essa mesma ciência. Questão de coerência, certo? Você vê algum deles fazer isso? É aquela velha história das bruxas: “não acredito em evolução, mas que ela acontece, acontece; faço uso das aplicações e benefícios que o estudo do processo evolutivo traz para a humanidade,  mas continuo negando que ela seja um fato.” Lamentável.


Agradeço a Deus pelos neo-ateus

julho 27, 2010

trechos de um sermão de Michael Dowd

O Deus que Richard Dawkins diz ser uma ilusão, é uma ilusão! Esta forma de pensar a respeito de Deus, reflete uma visão de mundo da Idade do Bronze, ultrapassada, na qual temos acreditado cegamente por gerações, simplesmente porque alguém disse ou porque nossas tradições nos ensinam isso. Os literalistas bíblicos estão dirigindo pessoas pensantes para fora da igreja.[…]

[…]Felizmente, essa ideia de Deus é tão real quanto a do Papai Noel. Não importa o que está escrito, Deus não é um terrorista sobrenatural.[…]

[…]Quando nós cristãos interpretamos a escritura literalmente, estamos depreciando a bíblia e desonrando Deus. Nossa melhor orientação moral vem do que Deus está revelando hoje, por meio de evidências, não de tradições ou autoridade ou velhas histórias míticas.[…]

[…]Deus ainda está falando, e o fato é que a língua nativa dEle – não é o hebraico, ou grego ou o inglês da versão King James. Valorizar o que foi revelado milênios atrás, para pessoas que pensavam que a Terra era plana, mais do que o que tem sido revelado por Deus hoje, para pessoas que sabem que não é, é uma receita para o desastre.

Bestselling Author Launches Radical New Sermon Series in Oklahoma

O fato é que na época em que a bíblia foi escrita, as pessoas viam o mundo desta forma como descrita na bíblia. É um erro julgá-las nos baseando para isso, nos nossos conhecimentos atuais. Eu pelo menos, não esperaria que Deus inspirasse homens da Idade do Bronze, a escrever um tratado de física quântica. É óbvio, evidente, que as pessoas que escreveram, tinham conhecimento limitado tanto do mundo que as rodeava, quanto de Deus. Afinal, apesar de Deus ser o mesmo, as pessoas não eram as mesmas, o mundo não era o mesmo, e qualquer tentativa de explicá-Lo, é apenas isso, tentativa, limitada pela nossa humanidade, nossos preconceitos, nosso conhecimento, seja na Idade do Bronze, seja no século XXI. Assim como, ao mesmo tempo em que colocaram no texto bíblico a cosmovisão da época e da região, também incluíram números e nomes que possuem eles mesmos os seus significados. Os autores da bíblia juntaram à descrição da cosmologia da época, significados espirituais e simbólicos. É um erro contar o tempo levando em conta os números citados na bíblia, como por exemplo, o número de gerações até Jesus ou etc, porque aquele número de gerações não pretende ser uma contagem temporal exata, tem significado simbólico.

E já basta dessa conversinha ridícula, de dizer que a ciência ou os cientistas querem tirar Deus ou a religião da vida das pessoas. O que a ciência e os cientistas querem (de novo), é que a ciência seja neutra, e não obrigada a adotar algum tipo de explicação metafísica ou sobrenatural. Mesmo porque, como já falei aqui, haveria várias versões de ciência, misturando religiões, ideologias e o escambau; e não uma só versão neutra, como deve ser.

Ter Deus presente na sua vida, ou participar de uma religião qualquer, é uma escolha pessoal, e a ciência não diz nada a respeito disso. Os cientistas estão totalmente corretos quando se manifestam de alguma forma, se religiões e religiosos, tentam incluir metafísica e filosofia no meio de explicações científicas e querem, à força, tornar obrigatório que esse conjunto seja visto como ciência, e ensinado em escolas como ciência, substituindo a verdadeira ciência, quando não é ciência nem pode substituí-la.

É muito simples de entender as razões da revolta de alguns cientistas contra a religião. Até eu, sou contra essa religião que tenta impor cosmologias ultrapassadas, ou gera terroristas, ou que deixa as pessoas piores do que já são, mais intolerantes, em vez de trazer avanço pessoal e levá-las a viver em paz com todos, mesmo aqueles que não concordam com o que acreditam. Religiosos sabem disso muito bem, embora muitas vezes a história que contam, seja bem diferente.