Crentes e formigas…

outubro 11, 2009

formiga1Tem pessoas que acham adequado comparar o corpo de pessoas ligadas ao cristianismo à formigas. Inclusive temos aquelas chamadas “formigas crentes”, personagens de tirinhas e cartõezinhos com temas evangélicos.

Mas eu particularmente não gosto de crente tipo formiga.

Como assim, você não gosta de crente-formiga? As formigas são tão trabalhadoras, incansáveis, sabem trabalhar em equipe e tudo mais, são perfeitas…

Pois é, eu sei que elas são incansáveis, trabalhadoras dedicadas, mas tem um porém. Elas são burras. Sim, isso mesmo, são burras.

Se eu tenho um problema com formigas cortadeiras no meu pomar, por exemplo, basta comprar formicida granulado, e espalhar nas trilhas por onde as formigas estão passando com as folhas. Em questão de minutos, elas param de carregar as folhas e levam o formicida em seu lugar. Se o formicida for bom, em pouco tempo o formigueiro terá desaparecido. E as formigas nem mesmo vão saber o que foi que as matou.

O crente-formiga é assim. Mesmo tendo sido ensinado a selecionar seu alimento, e não levar qualquer coisa que pareça comestível para o formigueiro, logo se deixa seduzir pelos apetitosos pedacinhos de formicida granulado que encontra pelo caminho. E nem imagina o efeito que esse formicida terá, uma vez contaminando o fungo do qual todo o formigueiro se alimenta.

Exemplos de “formicida” sendo levado aos “formigueiros” e acabando com eles, é o que menos falta. Pastor-formiga então, nem precisa comentar. O que tem de pastor-formiga, dando alimento envenenado às ovelhas-formiga, não é brincadeira. E pior, na grande maioria dos casos, eles sabem muito bem que estão alimentando-as com veneno, um tipo de veneno que, mais cedo ou mais tarde, se mostra letal, mesmo eles sendo espertos o suficiente para não aplicarem doses letais de uma só vez, começam aos pouquinhos e vão aumentando a dose. O objetivo é mantê-las narcotizadas o máximo de tempo possível, enquanto esvaziam os seus bolsos.

Tipos de formicida são vários: venda de prosperidade, distribuição de objetos ungidos, idolatria de líderes, idolatria de “popstars gospel”, doutrinas de homens transformadas em lei divina, superstições, espiritismo gospel, macumba gospel, doutrinas judaizantes, “terrorismo gospel – não toque nos ungidos!”, “marchas proféticas”, “atos proféticos”, vários tipos de “unções”, “ameaça gospel” – quem não dizima está roubando Deus! etc… tem formicida para todos os gostos, e os crentes-formiga se deixam levar, como se fossem as próprias folhas que as formigas carregam, inertes.

Qual o antídoto? A Verdade que liberta… mas essa Verdade não é tão palatável quanto o formicida, que foi projetado para ser agradável ao paladar das formigas, entretê-las e seduzi-las, a ponto delas preferirem o veneno à sua comida natural. É bem provável que os crentes-formiga não acreditem que estão consumindo veneno, e recusem o alimento verdadeiro. Talvez nem reconheçam-no como o alimento verdadeiro, tão narcotizadas pelo veneno, estão.


Consciência inconveniente e a multidão

outubro 11, 2009

Por que é que as pessoas preferem ter a palavra dirigida a si em grupos em vez de individualmente? É porque a consciência é uma das maiores inconveniências da vida, uma faca que corta muito fundo? Nós preferimos ser “parte de um grupo”, “formar um partido”, pois se nós somos parte de um grupo isso significa “adeus, consciência!” Nós não podemos ser dois ou três, um “Irmãos Silva & Cia.” em torno de uma consciência. Não, não! A única coisa que o grupo assegura é a abolição da consciência.

A mesma coisa acontece com a agitação. Uma pessoa pode muito bem comer uma alface antes que ela forme um “coração”, porém a delicadeza desse “coração” e o seu adorável núcleo são bem diferentes das folhas. Da mesma forma, no mundo do espírito, a agitação, a tentativa de competir com outros, correndo para lá e para cá, torna quase impossível para um indivíduo formar um coração, tornar-se um indivíduo responsável e vivo. Toda e qualquer vida que está preocupada em ser como outros é uma vida desperdiçada, uma vida perdida.

Uma pomba, uma mosca ou um inseto venenoso são objetos da preocupação de Deus. Não são vidas desperdiçadas ou perdidas. Mas massas de imitadores, uma multidão de copiadores são vidas desperdiçadas. Deus foi misericordioso conosco, demonstrando sua graça ao ponto de estar disposto a se envolver, Ele mesmo, com cada pessoa. Se nós preferimos ser como todos os outros, isso resulta numa alta traição contra Deus. Nós que simplesmente seguimos os outros somos culpados, e nosso castigo é ser ignorado por Deus.

Ao formar um partido, ao derreter-se dentro de algum grupo, nós não só evitamos nossa consciência mas também o martírio. É por isso que o medo dos outros domina esse mundo. Ninguém se atreve a ser um genuíno “eu mesmo”; todo mundo está escondido em algum tipo de “comunhão”. Órgãos sensíveis são blindados e não estão em contato imediato com outros objetos, e da mesma forma nós, pessoas ordinárias, temos medo de chegar num contato pessoal e imediato com o eterno. Em vez disso, nós confiamos em tradições e na voz dos outros. Nós nos contentamos em ser um espécie ou uma cópia, vivendo uma vida blindada contra a responsabilidade individual diante da Verdade.

A verdadeira individualidade é medida assim: por quanto tempo ou até que ponto alguém agüenta estar sozinho sem a compreensão dos outros. A pessoa que suporta estar sozinha está do outro lado do mundo em relação ao “socializável”. Ele está a quilômetros de distância do agradador de pessoas, aquele que se dá bem com todo mundo – aquele que não tem arestas afiadas. Deus nunca usa tais pessoas. O verdadeiro indivíduo, qualquer um que vai estar diretamente envolvido com Deus, não vai e não pode evitar a mordida humana. Ele será completamente incompreendido. Deus não é amigo de reuniões humanas aconchegantes.

Sim, no mundo puramente humano a regra é a seguinte: busque a ajuda e a opinião dos outros. Jesus diz: cuidado com os homens! A maioria das pessoas não têm somente medo de ter uma opinião errada, elas têm medo de manter uma opinião solitária. No mundo físico a água apaga o fogo. Assim também é no mundo espiritual. Os “muitos”, a massa de pessoas, apaga o fogo interior – cuidado com os homens!

De acordo com o Novo Testamento, ser um cristão significa ser sal. Cristianismo faz essa pergunta a cada indivíduo: você está disposto a ser sal? Você está disposto a ser sacrificado, em vez de fazer parte da multidão que busca tirar algum lucro do sacrifício de outros? Aqui, novamente, está a distinção: ser sal ou derreter-se dentro da massa; deixar outros serem sacrificados por nós em nome da Verdade ou permitir a si mesmo ser sacrificado – entre essas duas opções existe uma eterna diferença qualitativa.

O profundo erro da raça humana é que não há mais indivíduos. Nós nos tornamos divididos em dois. Quando um livro se torna velho e gasto, a cola se solta e as folhas caem. De forma similar, no nosso tempo nós estamos nos desintegrando. Nosso entendimento e nossa imaginação não montam um caráter. Nós somos molengas sem espinhas que apenas paqueram com o que é mais alto. Como nós poderíamos possivelmente evitar a tontura que surge com o medo de pessoas, no meio desse redemoinho de milhões, onde tudo é formado por multidões e movimentos? Quanta fé é necessária para crer que a vida de uma pessoa é notada por Deus e que isso é suficiente!

Querer se esconder na multidão, ser uma pequena fração de um grupo em vez de ser um indivíduo, é o escape mais corrupto de todos. Sem dúvida, isso torna a vida mais fácil, mas isso acontece tornando-a sem raciocínio. Ainda assim a questão é aquela da responsabilidade de cada único indivíduo – que cada um de nós é ele mesmo, autêntico e que responde por si. É “fugir da raia” quando se faz barulho junto com um grupinho por uma assim chamada convicção. Nós precisamos, diante de Deus, fazer a cabeça em relação a nossas convicções, e então vivê-las independentemente dos outros. A eternidade vai separar cada pessoa como sendo individualmente responsável – tanto aquele que está sempre ocupado, que pensava estar seguro em algum grupo ou alguma corporação, como aquele miserável mais pobre, que pensava não ser notado.

Cada pessoa deve prestar contas a Deus. Nenhuma terceira pessoa se atreve a se aventurar em se intrometer nessa prestação de contas. Deus no céu não fala conosco como se fala com uma congregação; ele fala com cada um individualmente. É por isso que a evasão mais ruinosa de todas é se esconder numa manada, na tentativa de esconder-se da fala particular de Deus. Adão tentou isso quando a sua consciência culpada o fez imaginar que ele poderia se esconder entre as árvores. Da mesma forma, é mais fácil e mais conveniente, e também mais covarde, esconder-se no meio da multidão na esperança de que Deus não vai reconhecê-lo dentre os outros. Mas na eternidade cada um vai prestar conta individualmente. A eternidade vai examinar cada pessoa por tudo o que ela escolheu e fez como um indivíduo diante de Deus.

Será horrível no dia do julgamento, quando todas as almas voltarem à vida, para colocarem-se de pé completamente sozinhas, sós e desconhecidas por todas, e ainda assim cândida e exaustivamente conhecidas por Ele que conhece todos. Ninguém pode se orgulhar em ser mais do que um indivíduo. Nem ninguém pode pensar de forma deprimente que ele não é um indivíduo. Não, cada um pode e deve prestar contas a Deus. Cada um tem a tarefa de se tornar um indivíduo.

Kierkegaard diz! – É comprido  mas leia!!!!!


Mate os comentadores!

outubro 11, 2009

A massa de interpretadores bíblicos de hoje danificaram, mais do que ajudaram, o nosso entendimento da Bíblia. Ao ler os estudiosos, tornou-se necessário fazer como alguém numa peça de teatro onde uma profusão de espectadores e holofotes impedem o que seria a nossa apreciação normal da peça em si, e em vez disso somos confrontados com pequenos incidentes. Para ver a peça, a pessoa tem que ignorá-los, se possível, ou entrar por um caminho que ainda não foi bloqueado. O comentador se tornou, de fato, o intrometido mais perigoso possível.

Se você deseja entender a Bíblia, então esteja certo de lê-la sem um comentário. Pense em dois amantes. A amante escreve uma carta ao seu amado. A pessoa amada se preocupa com o que os outros pensam? Ele não vai ler a carta sozinho? Em outras palavras, passaria pela cabeça dele a qualquer momento a idéia de ler a carta usando um comentário?! Se a carta da amante fosse numa língua que ele não entendesse – bem, então ele aprenderia a língua – mas ele certamente não leria a carta com a ajuda de comentários. Eles são inúteis. O amor pela sua amada e sua prontidão em cumprir com os seus desejos o tornaria mais do que capaz de entender a carta. É a mesma coisa com as Escrituras. Com a ajuda de Deus nós podemos entender a Bíblia direito. Todo comentário distrai, e aquele que se senta com dez comentários abertos e lê as Escrituras – bem, provavelmente ele está escrevendo o décimo primeiro. Certamente ele não está lidando com as Escrituras.

Suponha agora que essa carta da amante tem o atributo único: que todo ser humano é esse amante – e então? Nós deveriamos agora sentar e fazer uma conferência uns com os outros? Não, cada um de nós deveria ler essa carta sozinho como um indivíduo, como um indivíduo único que recebeu essa carta de Deus. Ao lê-la, nós vamos nos preocupar primeiramente conosco e com nosso relacionamento com Ele. Nós não vamos nos focalizar, na carta da amada, que talvez esta passagem, por exemplo, pode ser interpretada dessa forma, e aquela passagem de outra forma – oh, não, a coisa importante para nós será agir da forma mais breve possível.

Não é algo impressionante ser o amado? E isso não nos dá algo que nenhum comentador tem? Pense nisso. Nós não somos, cada um de nós, os melhores interpretadores das nossas próprias palavras? E então próximo ao amante, e em relação a Deus, o crente verdadeiro? Para que não esqueçamos, as Escrituras não são nada mais que sinais de trânsito: Cristo, o amante, é o Caminho. Mate os comentadores!

É claro que os comentadores não são os únicos errados. Deus quer forçar cada um de nós novamente na direção do essencial, de volta para o início infantil. Mas estar nu diante de Deus dessa forma, isso nós não queremos de jeito nenhum. Todos nós preferimos os comentários. Assim, a cada geração que passa, nós nos tornamos cada vez mais sem espírito.

O que nós realmente precisamos, então, é de uma reforma que deixe até mesmo a Bíblia de lado. Sim, isso tem tanta validade agora quanto teve o rompimento de Lutero com o Papa. A ênfase atual em retornar à Bíblia criou, infelizmente, uma religiosidade por meio de aprendizado e charlatanismo literário – uma perfeita diversão. Tragicamente esse tipo de conhecimento espirrou gradualmente para as massas, de forma que ninguém consegue mais ler a Bíblia simplesmente. Todo o nosso aprendizado bíblico tornou-se nada mais do que uma fortaleza de desculpas e escapes. Quando chega ao ponto da existência, da obediência, há sempre algo mais do qual nós temos que cuidar primeiro. Nós vivemos sob a ilusão de que nós precisamos primeiro ter a interpretação correta ou a fé na forma perfeita antes de poder começar a agir – isto é, nós nunca passamos a fazer o que a palavra diz.

A igreja tem precisado há muito tempo de um profeta que, com temor e tremor, tivesse a coragem de proibir as pessoas de ler a Bíblia. Eu sou tentado, portanto, a fazer a seguinte proposta. Vamos coletar todas as Bíblias e levá-las para uma área aberta, ou ao topo de uma montanha e então, enquanto ajoelhamos, deixemos alguém falar com Deus da seguinte forma: “Leve esse livro de volta. Nós cristãos, tais como somos, não somos capazes de nos envolver com tal coisa; ele só nos torna orgulhosos e infelizes. Nós não estamos prontos para ele.” Em outras palavras, eu sugiro que nós, como aqueles habitantes cujas manadas de porcos afundaram na água e morreram, peçamos para Cristo “abandonar a vizinhança” (Mateus 8:34). Isso seria pelo menos um papo honesto – algo muito diferente da erudição nauseante e hipócrita que prevalece tanto hoje.

A questao é bem simples. A Bíblia é muito simples de entender. Mas nós cristãos somos um bando de pilantras cheios de esquemas. Nós fazemos de conta que somos incapazes de entendê-la porque nós sabemos muito bem que, no minuto em que a entendemos, somos obrigados a agir de acordo. Tome qualquer palavra do Novo Testamento e esqueça tudo exceto comprometer-se a agir de acordo. “Meu Deus”, você vai dizer, “se eu fizer isso toda a minha vida estará arruinada! Como é que eu poderia continuar a vida no mundo?”

Aqui está o lugar real da erudição cristã. A erudição cristã é a invenção prodigiosa da igreja para defender-se contra a Bíblia, para garantir que nós continuamos a ser bons cristãos sem aproximar-se muito da Bíblia. Oh, erudição sem preço, o que nós faríamos sem você? Que coisa terrível é cair nas mãos do Deus vivo. Sim, é até mesmo terrível estar sozinho com o Novo Testamento.

Eu abro o Novo Testamento e leio: “Se você quer ser perfeito, então venda todos os seus bens, dê para os pobres e me siga.” Bom Deus, se nós fôssemos fazer isso de verdade, todos os capitalistas, os funcionários públicos e os empresários, a sociedade inteira, de fato, seria quase como mendigos! Nós afundaríamos se não fosse pela erudição cristã! Glória a todos os que trabalham para consolidar a reputação da erudição cristã, que ajuda a refrear o Novo Testamento, esse livro confuso que – um, dois, três! – derrubaria todos nós se ele fosse solto (ou seja, se a erudição cristã não o refreasse).

Em vão a Bíblia comanda com autoridade. Em vão ela adverte e implora. Nós não a escutamos – isto é, nós escutamos a sua voz somente através da interferência da erudição cristã, através dos especialistas que foram propriamente treinados. Exatamente da mesma forma que um estrangeiro protesta pelos seus direitos em uma língua estrangeira e atreve-se apaixonadamente a dizer palavras corajosas diante de autoridades de Estado – mas veja, o intérprete que deveria traduzir não se atreve a fazer isso mas substitui a fala por outra coisa -, assim também a Bíblia soa adiante através da erudição cristã.

Nós declaramos que a erudição cristã existe especificamente para nos ajudar a entender o Novo Testamento, para que nós possamos ouvir melhor a sua voz. Nenhum louco, nenhum prisioneiro do governo, jamais foi confinado dessa forma. No que se refere a eles, ninguém nega que eles estejam trancafiados, mas as precauções tomadas em relação ao Novo Testamento são ainda maiores. Nós a trancafiamos, mas argumentamos que estamos fazendo o oposto, que nós estamos engajados com esforço em ajudá-la a ganhar claridade e controle. Mas então, é claro, nenhum louco, nenhum prisioneiro do governo, seria tão perigoso para nós como o Novo Testamento seria se fosse libertado.

É verdade que nós, protestantes, fazemos grandes esforços para que toda pessoa possa ter a Bíblia – até mesmo na sua própria língua. Ah, mas que esforço nós fazemos para convencer a todos que ela só pode ser entendida através de erudição cristã! Essa é a nossa situação atual. O que eu tentei mostrar aqui pode ser colocado facilmente: eu gostaria de alertar as pessoas e admitir que eu acho o Novo Testamento muito fácil de entender, mas até agora eu achei tremendamente difícil agir literalmente de acordo com o que ele claramente diz. Talvez eu possa tomar outra direção e inventar um novo tipo de erudição, trazendo mais um comentário, mas eu estou muito mais satisfeito com o que eu fiz – ter feito uma confissão sobre mim mesmo.

Kierkegaard diz – Mate os comentadores!