União civil de homossexuais

Parece absurdo que um assunto desses precise ser tão discutido, porque é óbvio que é um direito de um casal, seja homossexual ou não, ter sua união reconhecida perante o Estado, com todas as implicações que isso gera. Um casal heterossexual tem a maior facilidade para incluir sua esposa/esposo no plano de saúde do trabalho, por exemplo. Para um homossexual, as coisas não são tão simples assim.

Pensa comigo: graças a Deus, vivemos num regime democrático, e num regime democrático, não é admissível que existam cidadãos com menos direitos do que os outros. E essa questão da união civil, interfere numa série de outras coisas, como pensões, previdência social, direitos de herança, inclusão da pessoa como dependente em planos de saúde e etc. E se os homossexuais pagam impostos como qualquer heterossexual, é justo que tenham sempre que acionar a justiça para resolver questões que, para os heterossexuais, são banais? É uma questão de cidadania e direito civil, não tem absolutamente nada a ver com religião. Não tem absolutamente nada a ver com casamento religioso.

E outra: se você pensa que homossexuais devem ter menos direitos do que você, só porque são gays, me explica por que é que eles pagam os mesmos impostos que você paga? Como tenho ouvido desde que me tornei cristã, escolhas são pessoais, mas é no mínimo curioso que, mesmo repetindo isso, os crentes em geral queiram impedir as escolhas alheias, e forçar o mundo a andar de acordo com eles. O Estado não tem que legislar com base na bíblia, até porque existem cidadãos de outras religiões, e sem religião, que não podem ser obrigados a viver de acordo com ela, só porque crentes pensam que é assim que deve ser – uma teocracia cristã, em vez de uma democracia laica. Infelizmente, o Brasil ainda está longe de ser um Estado laico, mas pelo menos tem avançado nesse sentido, e isso é bom para todos, inclusive para os cristãos (que vão ter que se conformar a obedecer o que Jesus disse: que o Reino dEle não era deste mundo – e desistir dessa ideia de implantar teocracias evangélicas, e impor valores à força). É seu problema a vida ou opção sexual alheia? É problema seu, a escolha alheia? Não, mas é um problema para o Estado, garantir que todos tenham direitos civis iguais. União civil é questão de proteção jurídica aos direitos sociais daqueles que, sendo homossexuais, decidem viver juntos, por escolha mútua e pessoal. Muito simples. Direito civil não deve ter embasamento religioso, para o bem de todos os cidadãos.

Não importa se você concorda ou não com o comportamento homossexual (e é um direito seu não concordar), não interessa se considera anti-natural ou não, ou se você acredita que relacionamento homossexual é errado (pecado) ou não, pois concordando ou não, gostando ou não, achando errado ou não, os homossexuais existem, são cidadãos como você, contribuintes como você, cidadãos com direitos e deveres exatamente como você, livres para fazer suas escolhas, exatamente como você, e logo, perante o Estado, devem ter os mesmos direitos que você tem, e é dever do Estado, garantir isso. O Estado não pode ignorar a existência deles, eliminá-los, isolá-los, ou obrigá-los a se calar, como os evangélicos em geral, fazem; porque é desta forma que costumam tratar os discordantes no seu próprio meio. Alguma dúvida mais?

Você ama o Estado, a democracia e a Justiça, quando lhe garantem liberdade de culto, expressão e crença, e quando isentam igrejas de pagamento de impostos, sem fiscalizar se as igrejas estão cumprindo sua função social (e desse direito, boa parte dos líderes evangélicos que costuma esbravejar histericamente contra a união civil homossexual, usa e abusa, não é?); mas odeia ambos, quando o Estado e a Justiça discordam de você, para cuidar dos direitos de outros cidadãos? E quer ser levado a sério? Francamente…

Alguma vez nos evangelhos, Jesus aparece impondo alguma coisa por leis e decretos, e obrigando pessoas a obedecer, à força? Ele fez exatamente o contrário, mostrou que de nada adiantavam leis, vestimentas, cantos, orações e rituais, se nada daquilo estivesse escrito nos corações das pessoas. Até parece que não conhecem Deus, e não sabem ainda que Ele nunca impõe nada a ninguém, porque deseja que tudo seja feito POR e COM amor a Ele, e também ao PRÓXIMO. No caso, os gays são o PRÓXIMO que muitos evangélicos se recusam a amar, (e que alguns matariam se pudessem); e por falharem no amor, tentam se impor pela força de leis. Então, colocam evangélicos na política, que no geral só falam bobagem e passam vergonha (isso quando não usam os cargos para obter vantagens ilícitas para suas igrejas, como acontece o tempo todo), e com isso, só aumentam a ojeriza da sociedade contra si mesmos. Perdem a credibilidade e são ridicularizados em vez de serem ouvidos. Lamento informar, mas não há decreto nem lei que qualquer político evangélico possa criar, que seja capaz de substituir o efeito do amor que vem do alto, nada que possa ser usado como atalho. E nesse ponto, na expressão do amor do alto, os crentes têm falhado miseravelmente. Se falham nisso, não é por leis ou decretos que vão conseguir alguma coisa.

E pensa: os homossexuais são minoria. Se a unanimidade do STF não representa a vontade da população, como alguns evangélicos alegaram, que tal levar em conta que a maioria da população não é homossexual e, portanto, não são seus direitos que estão sendo prejudicados?

Se você, cristão, estivesse no lugar dos homossexuais, como minoria no país, e tendo seus direitos prejudicados, tenho certeza de que não reclamaria de uma decisão do STF que lhe fosse favorável e lhe fizesse justiça. Pense nisso. Se colocar no lugar dos outros de vez em quando, é bom. É simples, não complique.